Mundo ficciónIniciar sesiónAnna Sanders, uma jovem americana, se muda com o pai para a Califórnia em busca de uma vida melhor após uma tragédia familiar. Talentosa e apaixonada pela dança do ventre, ela começa a trabalhar como dançarina em um luxuoso hotel que recebe muitos hóspedes árabes. Em uma de suas apresentações, Anna chama a atenção de Hassan Kabal Al-Assad, um misterioso e carismático príncipe marroquino. O encontro entre eles é imediato e arrebatador — uma mistura de atração, choque cultural e resistência emocional. Hassan, herdeiro de um poderoso clã e futuro soberano de Sunar, vive dividido entre o dever com sua tradição e o desejo pela mulher que abalou suas convicções. Apesar de seus valores conservadores, ele se vê fascinado por Anna, uma mulher independente, teimosa e de espírito livre — tudo o que desafia o mundo árabe que ele representa. Entre eles nasce um amor intenso, mas proibido. A relação se transforma em um jogo de poder e paixão: Hassan tenta dominar, Anna resiste; ele se mostra protetor e possessivo, ela o confronta com coragem e vulnerabilidade. Ao longo da trama, os dois enfrentam o peso das diferenças culturais, a interferência das famílias reais, e os segredos do passado que os unem mais do que imaginam. Anna, aos poucos, descobre que Hassan não é apenas um homem poderoso — ele é um príncipe destinado a um casamento arranjado. Quando a verdade vem à tona, ela se vê dividida entre o amor e o orgulho, o desejo e a liberdade. Hassan, por sua vez, precisa escolher entre o dever com seu povo e o amor da mulher que devolveu cor à sua vida. O romance é uma jornada de redenção, perdão e amor absoluto, ambientada entre o luxo dos palácios marroquinos e a modernidade americana.
Leer másO minarete mouro da Mesquita Cutubia, do século XII, ergue-se imponente, visível da janela do meu escritório. De onde estou, também avisto a Medina — uma cidade murada, vibrante e antiga, herança viva do Império Berbere. Suas ruas estreitas formam um labirinto de sons e aromas: os souks fervilham com tecidos coloridos, cerâmicas artesanais e joias tradicionais.
Estou em Marrakesh, a joia imperial do oeste do Marrocos. Aqui, entre mesquitas, jardins e mercados, reina o contraste entre o luxo e a história. O meu palácio, um símbolo de poder e tradição, ergue-se em um dos bairros mais ricos e privilegiados da cidade.
— Soberano — ouço a voz de Omar, meu conselheiro mais antigo.
Giro a cadeira e o encaro. A expressão dele carrega uma ansiedade incomum. O silêncio pesa entre nós.
— Algo errado? — pergunto, a voz firme, mesmo com a curiosidade crescente.
Ele demora a responder, e isso só aumenta meu desconforto.
— Há... uma pessoa que deseja falar com o senhor. — A voz de Omar treme, coisa rara para um homem sempre tão sereno.
— Essa pessoa se identificou?
Ele engole em seco, visivelmente perturbado.
— É sua... esposa.
— Como? — Pisco, incrédulo, certo de ter ouvido errado.
— Sua esposa — repete, a contragosto, quase sussurrando.
Allah! Que brincadeira é essa? Reprimo o impulso de gritar, mas a fúria atravessa minhas palavras.
— Quer dizer que Aysha está aqui? Minha futura esposa?
Ele balança a cabeça em negativa.
— Não, soberano. É... Anna.
O chão parece se abrir sob meus pés. Por um instante, o ar me falta. Meus punhos se cerram, as mandíbulas se travam.
Anna.
Omar me observa em silêncio, ofegante. Ele sabe. Ele viu o que ela fez comigo — a revolta, a dor, a ruína.
Primeiro veio a ira.
Afundei até o fundo do poço. Houve dias em que eu sequer conseguia levantar da cama. Se não fosse minha família, meus amigos... talvez eu não estivesse aqui agora.
A verdade, aquela que mal suporto admitir, é simples: sem Anna, eu apenas sobrevivi.
Passo a mão pelos cabelos, tentando conter a maré de lembranças que me invade. Recordações dela — de nós — que nunca me abandonaram. São fantasmas que aparecem sem aviso: um perfume, uma mudança no vento, uma canção... qualquer coisa é suficiente para reabrir feridas antigas.
Demorei anos para aceitar a ausência dela, mas aceitar não é esquecer. Caminho para frente, sim, mas sempre olhando para trás.
Usei todos os recursos possíveis para encontrá-la nos Estados Unidos. Contratei detetives, divulguei seu nome — tanto o de solteira quanto o meu sobrenome que ela levou. Cogitei até que tivesse mudado de identidade. Paguei por anúncios, espalhei suas fotos pela Califórnia, onde a conheci.
E nada. Nenhuma pista.
Agora, de repente, ela está aqui.
A fúria me domina. Dou um soco na mesa; o impacto ressoa pela sala e a dor na mão é menor do que a que sinto no peito.
Allah!
Levanto-me, começando a andar de um lado para o outro, feito um leão enjaulado. Sinto o sangue pulsar espesso nas veias. O ar se torna pesado. Minhas têmporas latejam, o suor escorre pela testa.
Fecho as mãos, abro-as de novo. Tento respirar, mas o ar parece faltar. Seguro-me no encosto da cadeira até o corpo obedecer.
Ela está aqui.
O simples fato de saber disso é como abrir, de uma vez, a caixa que contêm todas as memórias que jurei manter seladas. Elas escapam, cortantes, e me atingem com força devastadora.
Mas Anna não verá minha fraqueza.
Encaro Omar, tentando recuperar o controle da voz:
— Onde ela está?
— Na sala, senhor.
Dou um sorriso amargo, a incredulidade ainda me corroendo.
— Mando-a entrar? — pergunta ele, hesitante.
— Não. — Endureço o olhar. — Eu irei até lá.
Hassan—Sim, Síd.—O que pensa que está fazendo Zoraide?—Como? Eu me aproximo dela, me agigantando na sua frente. Ela se encolhe.—Não quero que fale NADA da minha vida para Anna, ela que tire suas próprias conclusões pelo que ela vê. Você me entendeu? Se eu souber que deixou escapar alguma coisa, vou tomar isso como um ato de traição e você sairá dessa casa sem referências. E você sabe como é difícil conseguir um trabalho tão remunerado quanto o que obtém aqui. Eu tenho sido muito generoso. Ela engole em seco. — Sim, Síd. La samah Allah! (Deus me livre!) Eu não ia falar nada... —Diz e abaixa a cabeça.Eu rio alto.—Hah! E eu não te conheço, Zoraide? Então preste atenção. Esse tempo que eu e Anna passamos longe um do outro será apagado da sua memória, não da minha, é claro. Só eu sei o inferno que vivi, que passei, mas não quero que ela saiba nada da minha vida. Para quê? Para ela sapatear em cima dos meus sentimentos? Arrastar minha cara pela Medina? Ela saberá só o que eu l
Sinto isso ao ver agora o sofrimento em seus olhos. Se não fosse pela parte pesada de estar nesse país, eu teria ficado ao lado dele. Tudo sumia quando Hassan me pegava nos braços e me consumia com seus beijos e me alimentava com sonhos que as coisas iriam melhorar, com aquele jeito amoroso de me poupar. Fiz tudo por não suportar a ameaça da segunda esposa, ainda mais quando soube que ele poderia perder sua vida se insistisse em contestar isso.Como contestaria se faz parte de sua cultura isso?Por isso, fugi sim! Ele nunca admitiria uma separação e as mudanças estavam muito longe de acontecer.Eu abaixo meu rosto.—Hassan, sei que na sua concepção eu agi mal. Sei que suas tradições te levam a pensar assim.Hassan segura meu queixo e me faz olhar para ele.—Tradições? Por que, no ocidente se separa assim? Por carta?Eu estremeço.—Você teria me dado a separação se eu pedisse? Seja franco, Hassan!Ele solta o meu queixo, sua respiração está mais agitada. Ele não me dá nenhuma resposta.
AnnaEstou nervosa.Não!Nervosa é pouco para o que eu estou sentindo.Estou à flor da pele, tensa, uma pilha de nervos.Deus! Acho que vou vomitar!Inspiro profundamente para passar essa dor aguda e a sensação de estômago embrulhado devido a gastrite nervosa.Estar de volta depois de dois anos, depois de ter fugido de Hassan é realmente um ato de coragem, para não dizer loucura. Mas eu não encontrei outra solução. Fiz de tudo mesmo para não chegar a isso. Fui a banco atrás de empréstimos, procurei amigos de tia Elizabeth e nada! Então me vi sem alternativas a não ser estar aqui hoje e pedir ajuda a ele. Um homem que deve me odiar.Deus! Mas estou apostando no lado bom que conheci dele. Apostando que se eu me humilhar ele irá me ajudar. Minha tia vale qualquer sacrifício da minha parte.Passo os olhos pela sala magnífica, com suas esculturas, quadros, tapetes móveis. Todos caríssimos. O ambiente a riqueza espelha a nobreza, o poder e a magnitude de seu dono. É tanta ostentação que me
AnnaNão me senti indiferente quando pisei no solo de Marraquexe. Foi como abrir uma porta para o passado. Meu corpo estremeceu, meu coração apertou em angústia e depois bateu agitado de ansiedade enquanto meu estômago se revirava.Logo que cheguei ao hotel, percebi que não estava hospedada em qualquer hotel. Um guia turístico ao meu lado na recepção começou a falar sobre o Kasbah:—Esse hotel pertence à família real Kabal Al-Assad. Quem administra é Hassan Kabal Al-Assad, futuro sheik de Sunar e filho do falecido Sheik Rashid.Eu pisco com a informação e me apoio na pilastra do hotel, me sentindo ligeiramente mal. O guia continua:—Há uma semana atrás ocorreu aqui um grande evento. A tão esperada reunião dos chefes de família com suas lindas filhas para que Hassan, o futuro sheik de Sunar, escolhesse apenas uma para se casar. E a grande felizarda, a escolhida pelo príncipe Assad foi Aysha Jamal Adibe, filha de Kalil Jamal Adibe. Um chefe de família importante aqui na nossa região.Ha
Dois anos completos sem Hassan...Dou um beijo em tia Elisabeth. Ela está tão desanimada....—Nós vamos dar um jeito tia.—Se não der tudo bem.Eu estremeço.—Ontem conversei com John, o médico da senhora. Ele disse que a doença pode ser controlada.—E ele te disse o valor do remédio?—Disse.—Meu anjo, eu vou me deitar. Eu já vivi tudo que tinha que viver. Já sou uma velha de sessenta anos.—Eu não admito que a senhora diga isso. Hoje sessenta anos não é velho.—Quanto preciso ter para ser velha? Sessenta e cinco? —ela diz brincando.Eu a abraço por trás.—Tia. Ontem eu fiquei pensando. Eu vou conversar com Hassan. Não é justo ele ficar lá no bem bom e eu com lutas aqui. Uma coisa eu sei, o defeito dele sempre foi me poupar, querer o melhor para mim. Ele não me negará ajuda.—Meu anjo, você o deixou. Ele deve estar morrendo de raiva de você.—Hassan? Pode ser no início, mas agora ele deve estar levando sua vida. Deve estar até ter se casado. Então acredito que não me negará ajuda. —
Os três meses que seguiram com sua partida foram os piores. A morte de meu pai e sem notícias de Anna contribuíram para eu cair em depressão. Tentei me apegar ao trabalho para espantar minha tristeza, mas isso não adiantou.Quatro meses depois eu desabei. Além da depressão que já me dominava, eu fiquei seriamente doente. Peguei uma forte pneumonia. Ela sarou, mas meu coração não.Cinco meses eu estava melhor de saúde, mas ainda quebrado.Eu precisava reagir.Um sentimento de revolta começou a crescer dentro de mim, por tudo e por todos. Principalmente por mim, por eu não ter me atentado para o sinal de perigo quando conheci Anna. Ela era diferente. Linda, tentadora e atraente demais para eu ter insistido em tê-la para mim. Deveria ter me atentado as palavras de meu pai que um dia me disse: “Não se deixe levar pela carne, ela te domina quanto menos você esperar e, então, você se verá preso por ela. E o que está na mente desce para o coração. E se aloja ali e então você estará perdido.
Último capítulo