Mundo de ficçãoIniciar sessãoMeu coração se agita.
Falando de mim?
Dou um passo à frente, sem entender direito, e quase recuo quando o vejo — Hassan, sentado com aquele ar naturalmente dominador no sofá à minha direita. Ele está à vontade, uma das pernas cruzadas, o corpo inclinado levemente para trás, como quem sabe o poder que exerce sobre o ambiente. O dono do hotel, o senhor Almir Kalil, está ao seu lado, sorridente, com a postura de quem tenta disfarçar o orgulho de estar ali.
Meu coração dá um salto mortal no peito quando nossos olhares se cruzam. Por um breve segundo o tempo parece parar. Sinto o ar ficar mais denso, a respiração presa na garganta, e desvio o olhar rapidamente, tentando disfarçar o tremor que ameaça denunciar o que sinto. Meus olhos encontram o gerente, que está de pé ao lado da mesa, parecendo alheio ao turbilhão que se forma dentro de mim.
— Quero lhe apresentar o senhor Hassan Kabal al-Assad — diz o gerente, com um sorriso formal. — O senhor Almir Kalil você já conhece.
— Ah, o cantor — respondo sem pensar, apenas para preencher o silêncio.
Eles riem. Hassan é o que mais ri — e o som é grave, contagiante, cheio de uma confiança que parece natural demais. Ele chega a cobrir o rosto com a mão, como se tentasse conter a própria diversão. Não me sinto constrangida; pelo contrário. Há algo hipnótico em vê-lo rir assim, os lábios curvados, os dentes brancos contrastando com a pele morena. É como se o ar ao meu redor ficasse mais quente.
Quando ele se recompõe, ainda há um vestígio de sorriso nos cantos da boca — e, por um instante, penso em como seria sentir aquele sorriso mais de perto.
Mas logo o gerente volta a falar, e o clima muda.
— O senhor Assad quer conversar com você — ele diz. — Quer contratar seus serviços.Minhas sobrancelhas se erguem. Meu coração acelera de novo, confuso.
— Meus serviços? — repito, sem esconder a surpresa.O dono do hotel se levanta com naturalidade e caminha até a porta.
— Vamos, Henry — diz, lançando um olhar cúmplice ao gerente. — Vamos deixá-los a sós.A sós?
O pânico e a curiosidade se misturam dentro de mim. A sós com ele? O que ele poderia querer comigo?
Quando a porta se fecha atrás deles, o silêncio se instala. Sinto meu coração bater descompassado, alto o bastante para me distrair. Hassan continua sentado, me observando com uma calma quase felina. Há algo em seu olhar que me desnuda, como se ele pudesse ver o que há por trás de cada palavra, cada gesto.
Tento me recompor, cruzo os braços e pergunto, tentando soar firme:
— O que quis dizer com “meus serviços”?
Ele não responde de imediato. Levanta-se com movimentos lentos, seguros, e vai até o bar, como se o tempo estivesse a seu favor. De costas para mim, serve-se de uma dose de uísque, a mão firme, o gesto preciso.
— Exclusividade — diz, finalmente, sem se virar. — Quero que dance apenas para mim.
A palavra ecoa dentro de mim. Apenas para mim.
Sinto um frio subir pela espinha.— Você vai fazer algum show? — pergunto, sem saber se quero mesmo ouvir a resposta.
Ele ri, um riso baixo e rouco que me faz arrepiar. Então se vira, com o copo em mãos.
— Aceita uma bebida? — pergunta, estendendo o uísque.
Não sabia que árabes bebessem.
— Quer me embebedar? — pergunto, arqueando uma sobrancelha. — Acha que assim vai me convencer mais fácil?
Hassan ri novamente, mas dessa vez há algo diferente no riso. É mais íntimo, mais provocante. Ele dá um gole demorado e me encara com aquele olhar de quem está acostumado a ter o que quer.
— Você acha mesmo que eu preciso disso? — diz, num tom quase perigoso.
Respiro fundo, tentando manter o controle.
— Não... acho que não — respondo, mais para mim do que para ele. — Você é algum cantor famoso na sua terra?
Ele balança a cabeça, os olhos ainda fixos em mim.
— Não. Sou um homem de negócios. Um CEO.Um CEO. Claro. O tipo de homem que tem o mundo aos seus pés e nunca ouviu um “não” na vida.
Por um momento, penso se ele teria alguma casa de espetáculos, algum empreendimento onde eu pudesse trabalhar.
Mas uma parte de mim, a mais instintiva, sabe que não é disso que ele está falando.Ainda assim, finjo não perceber.
— Você tem uma casa de shows? Algo do tipo? — pergunto, com a voz um pouco trêmula.
Ele sorri. É um sorriso perigoso — lento, calculado, cheio de intenção. Termina o uísque e coloca o copo sobre a bandeja com um pequeno estalo.
— Não, Anna. Não tenho nenhum estabelecimento. — Ele faz uma pausa. — Venha até aqui. Sente-se comigo.
Meu primeiro impulso é dizer “não”. Tudo em mim quer manter distância. Mas a lembrança do meu pai tossindo, do remédio caro que ele não pode comprar, pesa sobre minha consciência.
Engulo o orgulho, respiro fundo e dou um passo. Depois outro.Cada movimento parece mais lento do que deveria.
Quando finalmente me sento ao lado dele, o perfume que vem de sua pele me envolve por completo — amadeirado, intenso, quase hipnótico. Tento não respirar fundo demais, mas falho. O cheiro dele é tão marcante que parece me dominar.
Ele não diz nada. Apenas me observa, em silêncio, como se esperasse que eu me acostumasse à sua presença. Tento manter o rosto neutro, mas sinto o coração bater forte, denunciando minha inquietação.
Contra a minha vontade, meus olhos percorrem cada detalhe do seu rosto: os cílios longos e escuros que fazem sombra sobre os olhos, o nariz aquilino que lhe dá um ar aristocrático, a boca firme e máscula que parece feita para o pecado.
E então ele também me observa — o olhar fazendo uma varredura lenta, estudada, até parar nos meus lábios.
Por um instante, o mundo parece se reduzir à distância entre nós dois.
Sinto a pele arrepiar, o ar rarefeito, e o coração... o coração dispara, traidor, dentro do meu peito.
Se ele me beijar levará um tapa na cara. —Penso com a respiração agitada e o coração batendo como um tambor dentro do meu peito.
Deus! Será que eu conseguiria resistir se ele me beijasse?







