Mundo de ficçãoIniciar sessãoEla solta o ar e sorri.
—Já reparou como o homem ocidental no restaurante tem com sua esposa aquela cara entediada? Sempre preocupado, reclamando da vida? Reparou como agem os casais árabes?
Eu paro de retirar a maquiagem e a encaro com o algodão suspenso no ar.
—Não, não reparei.
—Então repare. O homem árabe não fica olhando para outras mulheres, entediados. Ao contrário. Ele dá toda atenção para a sua esposa. Sempre atento às necessidades dela. São homens apaixonados e apaixonantes.
Meu coração se agita com as falas dela.
— Nem todo ocidental é assim.
—A grande maioria é. Você sabia que o homem árabe nunca falaria mal de sua mulher? Eles não cospem no prato que comem.
Eu a olho curiosa.
—Você já namorou um árabe?
Ela funga:
—Sim, e namorei tempo suficiente com um para que ele quebrasse todos os paradigmas existentes sobre eles.
—Se você gostou tanto, por que não deu certo?
Ela suspira enquanto escova as sobrancelhas com uma pequena escovinha, então diz olhando para o espelho:
— Ele não teve forças para ir contra a família dele. —Solta o ar e olha tristemente para mim. —Isso é um grande defeito deles. Eles são muito devotos à família. A aceitação da esposa é fundamental no relacionamento. Dificilmente o homem árabe b**e de frente com sua família.
Volto a limpar meu rosto.
—Ah, deve ser assim mesmo. A cultura árabe é machista. Feito pelos homens e para os homens.
—Isso não deixa de ser verdade, mas eles têm os seus encantos e isso sobrepuja os obstáculos. Eles são maravilhosos, carinhosos, românticos, sexy e mais, muito bons de cama. Um homem árabe não fala palavras chulas na cama. As palavras que ele diz são sentimentos e não carne. Ele é todo amor —ela suspira, seu rosto demonstrando todo saudosismo por ter vivido esse romance. Então e se levanta abruptamente. — Bem, vou indo. Falar nisso me deixa triste. Estou bem?
Helen é loira, olhos verdes. Para ficar mais árabe, ela prende os cabelos no alto da cabeça e coloca adereços na testa. Seu vestido longo é bem árabe também. Todo negro, sem muito decote. Ela tem trinta e oito anos. Muito bonita.
—Está linda. Vai lá e encanta com sua linda voz.
—Pode deixar!
Quando ela sai eu solto um longo suspiro ainda com aquele homem lindo na minha cabeça.
Deus! Não!
Afasto imediatamente a janela dos meus pensamentos e começo a retirar minhas roupas. Visto minha calça jeans e uma camiseta preta, lisa. Sento-me no pequeno sofá do camarim e calço meu tênis preto.
Vou até o espelho e solto meus cabelos. Os penteio até ficarem brilhantes.
Pronto! Suspiro.
Agora vou para o meu quarto, assistir alguma coisa na pequena tv até dar sono.
Abro a porta...
Deus! Clamo para mim quando dou com aquele demônio sedutor. Ele está, está encostado na parede, as pernas cruzadas de um jeito muito sexy.
Pisco aturdida. Ele está me esperando?
Nem dá tempo de pensar sobre isso, pois o ranger da porta o faz olhar para mim. Ele endireita o corpo e nossos olhos se encontram, então ele me dá um leve sorriso, que para mim pareceu perigoso, predador.
Meu coração se agita e quase sai pela boca e eu atribuo isso ao fato de não gostar da confiança desse árabe. Lutando contra o desejo de me virar e me afastar, eu endireito minha coluna e o encaro enigmática.
—Procurando alguém? —Pergunto.
Ele abre mais o sorriso.
—Já encontrei.
Sua resposta e a maneira como ele me olha, cheio de autoconfiança me fazem ofegar.
Arrogante!
Preciso colocá-lo no lugar dele:
—Olha, o fato de eu dançar, enquanto você cantava, não significa que flertei com você.
Ele ergue as sobrancelhas.
—Nem pensei nisso. Só senti o impulso de te procurar e te convidar para sairmos amanhã. —diz e me dá um sorriso inocente.
Por alguns segundos, fico só olhando para ele sem falas. Minha pulsação acelerada. O cara é tão gato, tão sexy que me sinto uma louca em recusar, mas a julgar por seu sorrisinho que no fundo pode ter um carácter perverso, pois ele não parece o tipo de homem que me levará à sério.
Deus! E lembre-se que ele é árabe!
Não se esqueça desse grande detalhe!
—Não obrigado, não estou interessada. —Eu me viro e quando estou para me afastar ele se coloca na minha frente.
Ergo meus olhos e dou com linda íris cinza na minha.
—Pode ser durante o dia. Por que não almoçamos juntos?
Desvio meu olhar dele para ver se essa sensação magnética passa, mas seu cheiro maravilhoso no meu nariz deixa muito latente sua presença.
Eu ergo meus olhos. Dou com seus olhos divertidos nos meus, como se ele soubesse o efeito que tem sobre meu corpo. Essa arrogância me deixa de imediato com raiva.
—Eu não posso.
Seus olhos estudam meu rosto.
—Sinto uma energia hostil em você. Bem diferente de minutos atrás quando você dançava.
—Você não está errado. Olha eu...
Ele me interrompe:
—Não me leve a mal, mas o fato de procurá-la depois do show não significa que te julgo uma garota de programa. E isso que achou? Você está se mostrando muito preconceituosa com sua categoria.
Respiro fundo, aturdida com suas falas. Ele tem o poder de embotar meus pensamentos.
—Sinto, mas a vida me ensinou a ser assim, cautelosa. E eu duvido muito de suas boas intenções!
—Só porque a sua dança imita o movimento de uma serpente não quer dizer que não haja um real interesse por trás do meu convite...
Eu rio.
—Duvido! Vocês árabes nos comem com os olhos, mas no fundo nos acham espetaculosas.
Ele me olha sem falas pelo meu jeito hostil, como se não esperasse isso de mim. Mas vejo que ele não se dá por vencido e rugas surgem ao redor de seus olhos deslumbrantes quando sua boca se encurva num sorriso, reparo nas lindas covinhas que surgem nas faces.
—Sim, reconheço que a maioria pensa desse jeito. Mas eu posso ser diferente, já pensou nisso?
Eu ofego.
—Você? Diferente? Não, você apenas sabe usar as palavras. Diz as palavras certas. Palavras que uma mulher deseja ouvir.
Hassan fica sério.
—Para sua informação, eu moro nos Estados Unidos há mais de cinco anos. Sou marroquino sim! No entanto, assimilei muito de sua cultura. E... senti uma eletricidade no ar quando nos vimos pela primeira vez e sei que gostou do que viu —ele diz confiante, seus olhos se demoram no meu rosto —e eu também...
Meus pelos se eriçam com suas falas. Eu estremeço. Espero que ele não tenha notado.
—Pois achou errado. Eu não senti nada disso.
Hassan segura um riso, então se controla e dá um sorrisinho de canto de lábios.
—Não foi isso que seus olhos me disseram.
Eu o olho perdida, demoro muito para responder:
—Eu...gostei do seu show, apenas isso. Você toca e canta muito bem. Claro que te olhei com admiração. Adorei o artista.
Ele me olha enigmático.
—Hum, então foi meu show? Que pena...pensei que algo tivesse acontecido entre nós. Sabe que é a primeira vez que me sinto tão atraído por uma mulher?
Suas falas agitam minha respiração.
Ambos ficamos calados por um momento. Seu olhar é sério no meu. Evitando a vontade de conhecê-lo melhor, digo:
—Bem, vou indo.
Começo a marchar para longe dele, mas antes que eu me afaste ouço sua voz:
—Meu convite ainda está em pé.
Eu me viro e o encaro.
—Você estava cercado de amigos hoje. Por que não sai com eles?
Ele ri.
—Ah, você reparou?
Eu sei que me entreguei quando disse isso.
—Sim —digo enigmática.
—Aqueles homens não são meus amigos. Apenas negócios, transações comerciais. Então, por mais que tentamos nos descontrair o assunto acaba sendo o trabalho. E não tem comparação sair com eles e sair com você...
Deus! Ele não desiste? Seu interesse por mim me desconcerta. Ele é muito charmoso e bonito, muito bonito.
—Desculpe-me, mas não posso. Eu tenho um compromisso amanhã. Tenho certeza de que não te faltará companhia feminina.
Ele avança.
—Por que acha isso?
Eu respiro fundo.
—Você sabe... —digo, não querendo exaltar seu poder de conquista, seus predicados. Não quero dar bandeira.
—Não, não sei... —ele diz rouco, seus olhos nos meus.







