88. Ecos do silêncio
O primeiro sentido a voltar foi o som.
Um ruído abafado, distante — como se o mundo respirasse do outro lado de um vidro.
Depois veio o cheiro.
Lençóis limpos, amadeirados, com um toque de café e fumo.
E, então, o toque — o peso suave de uma manta sobre o corpo, o travesseiro firme, a maciez que não combinava com hospital nenhum.
Quando abri os olhos, a luz filtrava pelas cortinas como uma lâmina tênue.
O quarto era amplo, escuro, com móveis de madeira e livros empilhados.
E no ar… o perfume dele.
Dante.
O nome latejou junto com a lembrança.
O som do impacto.
O farol vindo de frente.
O vidro se estilhaçando.
E a voz — aquela voz fria, perto demais do meu ouvido:
> “Ele vai te achar, como achou ela.”
Engoli em seco.
A memória era cortante.
A sombra. A dor. O vazio.
Sentei devagar, sentindo a cabeça latejar.
A camisa que vestia era dele — larga, cheirando a tabaco e chuva — e havia curativos discretos nos braços.
Uma bandeja sobre a mesa, com remédios e um bilhete de caligrafia firme:
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