87. Sob o mesmo teto

O som foi a primeira coisa que voltou.

Um som abafado, distante — como se o mundo inteiro respirasse por trás de uma parede de vidro.

Depois veio o cheiro.

Lençóis limpos, amadeirados, com uma nota inconfundível de café e fumo.

E só então o toque — o peso suave de uma manta sobre o corpo, o travesseiro firme sob a cabeça, a maciez que não combinava com hospital nenhum.

Meus olhos se abriram devagar, feridos pela penumbra cortada pela luz do amanhecer que escapava por entre as cortinas.

O quarto era amplo, escuro, com móveis de madeira, livros empilhados, uma jaqueta jogada na poltrona.

E no ar… o perfume dele.

Dante.

Um arrepio subiu pela espinha antes mesmo da memória.

O som do impacto.

O farol vindo de frente.

O vidro estilhaçando.

E a sombra… aquela voz sussurrando no meu ouvido antes de tudo apagar:

“Ele vai te achar, como achou ela.”

Meu coração disparou.

Sentei de súbito, ofegante, a cabeça latejando. A manta deslizou e percebi que estava com uma camisa larga demais — dele, cert
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