86. O resgate

A fumaça ainda me queimava os olhos quando ouvi o ruído — algo metálico sendo arrastado, um som bruto que não combinava com a quietude da madrugada. Virei na direção e, por entre os vapores, vi um corpo se mover. Primeiro pensei em sombra. Depois em vulto. E então, como se o mundo abrisse uma fresta, enxerguei-a.

Ágatha aparecia cambaleando, o rosto sujo de fuligem, o cabelo grudado na testa, o vestido rasgado no ombro. O sangue seco numa têmpora. O olhar perdido, como se ainda estivesse presa ao estouro e à fumaça. Por um segundo senti tudo girar — a raiva, o medo, a culpa com a lembrança da Louise — e aquilo me paralisou. Mas o corpo não me deixou ficar parado. Corri.

Ela não teve força pra dizer meu nome; só abriu os braços num gesto que foi, ao mesmo tempo, súplica e rendição. Quando meu corpo bateu contra o dela, senti o tremor. O cheiro de lavanda misturado a fuligem. As mãos dela se agarraram na minha camisa, inimigas e necessárias. O alívio me estourou no peito tão bruto que
Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App