O sono não veio.
A camisa dele colada ao meu corpo parecia mais um lembrete do que uma proteção. O cheiro amadeirado impregnado no tecido se infiltrava na minha pele, acelerando pensamentos que eu queria sufocar. Virei de um lado para o outro, mas a cada vez que fechava os olhos, lembrava da voz dele cuspindo “se é dinheiro que você quer, eu pago”. Levantei. Pisei no chão frio e segui pelo corredor iluminado apenas pela penumbra. O silêncio daquela casa era quase ensurdecedor. Só quando cheguei à sala, percebi que ele não dormia. Dante estava ali, de costas para mim, diante da lareira acesa. A luz do fogo recortava sua silhueta larga, o calor contrastando com o gelo que sempre emanava dele. Uma garrafa de uísque aberta sobre a mesa e o copo meio cheio entre os dedos. Por um instante, pensei em recuar. Mas ele virou o rosto devagar, como se já soubesse que eu estava ali. — Não consegue