A manhã não tinha pressa. Parecia se arrastar pelo vidro da janela do gabinete enquanto Eduardo, de mangas dobradas, relia a mesma página havia dez minutos. Não era o texto. Era o som das próprias decisões batendo por dentro das têmporas. No canto da mesa, a folha com as três linhas riscadas a caneta — “Não contaminar. Não abandonar. Não esquecer.” — parecia, naquele dia, cobrar uma quarta ordem: “Não ruir.”
Henrique entrou sem anunciar, como de costume, com duas canecas de café e um humor mais curto que o habitual.
— A cidade está falando baixo, o que é pior — ele disse, assentando as canecas. — Quando fala baixo, é porque está escolhendo onde morder.
Eduardo fechou o processo e foi direto ao centro do problema.
— Se me forçarem a sair, quem segura o processo? — perguntou. — E, sobretudo, quem não entrega a Vivian por tabela?
Henrique piscou, surpreso por ouvir em voz alta o que já intuía.
— Você está pedindo nomes?
— Estou pedindo um plano B — respondeu Eduardo. — Eu ainda não saí.