César acreditava que a liberdade tinha cheiro. Para ele, cheirava a carne no ponto, vinho caro e risadas que ecoam dois segundos além do aceitável. Na noite seguinte ao habeas, ocupou uma mesa na varanda envidraçada de um restaurante conhecido por quem prefere ser visto com discrição — ironia perfeita para um homem que queria ser visto sem parecer que queria. Acompanhado de dois empresários e um assessor oficioso, exibiu o que sempre considerou poder: sobriedade encenada, frases curtas que prometiam muito e diziam nada, e a mão no ombro do garçom como se o mundo coubesse no gesto.
Ele não sabia, mas a mesa ao fundo estava ocupada por uma dupla que não erra: a vaidade e a memória. Um promotor de fala morna, conhecido por jamais esquecer uma inflexão, observou César levantar a taça e brindar “à volta dos jogadores”. A frase não era crime — mas era trilha. E trilhas, como Gaia dissera tantas vezes, são para seguir.
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No clube, Gaia recebeu três recados em menos de uma hora. O primeiro: