O dia começou com um vento frio, desses que entram por frestas invisíveis e lembram que a casa tem costuras. Aline acordou antes do alarme, varreu a calçada com os olhos e só então bateu à porta do quarto de Vivian, duas vezes, código breve. A rotina seguia, mas o corpo dela lia outra coisa: a tensão tinha aumentado um tom.
— Rota zero hoje — disse, quando Vivian apareceu com o moletom cinza e o cabelo preso. — Treino mental, chamadas controladas e janela de cinco minutos a cada hora. — Fez uma pequena pausa. — César está tentando medir nosso pulso.
Vivian não perguntou como Aline sabia. Confiava nos canais que a agente nunca nomeava. Pousou o caderno azul na mesa e respirou como quem sobe uma escada longa. Achou os lápis de Mariana, alinhou-os por cor, da sombra ao brilho, e pensou que talvez fosse assim que a vida funcionasse: primeiro a sombra, depois o brilho, na ordem certa para não confundir o olho.
***
No fórum, Eduardo abriu o gabinete e encontrou um envelope pardo sob a porta