A madrugada não terminou. Para Vivian, as horas dentro da cela eram apenas uma sequência de minutos espremidos em paredes de ferro. O frio entrava pelas grades como vento que não pede licença. O colchão fino não segurava o corpo, e o cheiro de mofo misturado ao de desinfetante barato parecia se agarrar à pele. Não havia sono. Havia vigília.
Ela manteve o mantra como quem segura uma corda: “ficar inteira”. Não chorou alto, não implorou. Ficou deitada de lado, com os olhos abertos, ouvindo as outras presas murmurarem histórias que soavam como ecos de um mundo paralelo. Cada voz era um lembrete: aquela sala não distinguia inocentes de culpadas, apenas sobreviventes.
A mente de Vivian correu até Marlene e Mariana. Imaginou a tia na cozinha, costurando um pano velho para render mais um dia de venda, e Mariana deitada, lápis na mão, desenhando o piano com escada para o parquinho. “Vou voltar”, pensou. Não podia permitir que soubessem. Não agora. Não daquela forma. Que continuassem acredi