O casamento de Patrick Hangsmoor e Isabel Rollsbrook era um mero artifício contratual, firmado há dois anos para selar a cooperação entre suas poderosas famílias empresariais. Viviam vidas separadas: Isabel em seu aconchegante apartamento no centro da cidade, onde as telas ganhavam vida sob seus pincéis, e Patrick no luxuoso anexo de seu escritório, imerso no mundo dos negócios. As raras aparições públicas eram coreografadas para sustentar a fachada de um matrimônio bem-sucedido, mas, na verdade, eram dois estranhos sob o mesmo sobrenome. Isabel trilhava um caminho promissor no mundo da arte. Suas pinturas, carregadas de sensibilidade e cores vibrantes, começavam a atrair a atenção de galerias e colecionadores, construindo para si uma identidade profissional independente do nome Rollsbrook. Patrick acompanhava de longe, sem grande interesse, os discretos avanços da esposa. No entanto, a estabilidade financeira da família de Isabel ruiu após um investimento desastroso. A notícia chegou como um trovão nos ouvidos da mãe de Patrick, uma mulher pragmática e controladora. Sem hesitar, ela procurou Isabel com uma proposta fria: o divórcio. Constrangida e já resignada com a frieza do seu casamento, Isabel aceitou a generosa indenização oferecida e assinou os papéis, imaginando um futuro solitário, mas livre. Para sua surpresa, Patrick se recusou a assinar. E uma proposta tentadora que pode mudar tudo? Qual será o caminho que Isabel escolherá?
Ler maisNo luxuoso silêncio da suíte nupcial, Isabel Rollsbrook, adornada em renda e seda, sentia o peso do vestido de noiva apertar mais do que o corpete. Cada minuto que Patrick Hawksmoor passava na varanda, ao telefone, estendia-se como uma eternidade, um eco cruel dos 40 minutos que já haviam se arrastado. O sol de Porto Cristal, antes promessa de um novo dia banhando o litoral, agora fora substituído por uma lua cheia, que parecia zombar dela , iluminando, um reflexo de seus próprios sonhos. O casamento, um acordo meticulosamente planejado entre a Rollsbrook S.A. e a poderosa HS Company, era mais um item em uma planilha do que um laço de amor. A aquisição de empreendimentos, a expansão dos impérios – tudo fora negociado, menos os corações envolvidos. Isabel, contudo, agarrava-se a um último, frágil fio de esperança. Talvez, apenas talvez, este dia pudesse transcender a frieza dos contratos. Os últimos meses, no entanto, sussurravam o contrário. Patrick era um fantasma presente, estava sempre distante, frio, sempre absorto em reuniões e telefonemas, suas palavras reduzidas a banalidades vazias, superficiais como a espuma de um brinde forçado. O som da porta da varanda se abrindo tirou Isabel de seus pensamentos torturantes. Patrick entrou no quarto, apressado, os olhos fixos em um ponto invisível além dela. Quando ele finalmente se virou para entrar, os olhos de Isabel, marejados, fixaram-se nele. O traje de casamento, um impecável smoking preto, caía-lhe com uma perfeição quase cruel, acentuando a largura dos ombros e a postura ereta que sempre o caracterizara. A camisa branca, de um linho finíssimo, e a gravata borboleta escura, conferiam-lhe uma elegância fria, distante. Mas foi nos olhos que o coração de Isabel apertou ainda mais. Aqueles olhos, de um azul tão intenso e penetrante, a característica inconfundível da família Hawksmoor, que um dia ela imaginou que a olhariam com carinho, agora estavam vazios de emoção, focados em algo invisível, alheios à noiva que ele deixava para trás. O cabelo escuro, arrumado com precisão, e a linha firme do maxilar, apenas reforçavam a imagem de um homem inatingível, um estranho em seu próprio casamento.
_ Com licença, Isabel, ele murmurou, a voz mecânica, quase inaudível. Antes que ela pudesse sequer processar a frase, ele já estava virando as costas, atravessando o quarto com passos rápidos e determinados, sumindo pela porta da suíte. Isabel permaneceu paralisada, a respiração presa na garganta. O eco da porta se fechando ressoou em seus ouvidos, um som definitivo, brutal. Ele se fora. O noivo, o seu marido a havia deixado sozinha, vestida de noiva, em sua própria suíte nupcial. O choque a atingiu com a força de uma onda, seguido por uma maré crescente de constrangimento e humilhação. Lágrimas silenciosas brotaram, misturando-se à maquiagem impecável, manchando o véu de seus sonhos desfeitos. O acordo estava selado, mas seu coração, agora, parecia em pedaços. Ela fitou a porta recém-fechada, sentindo o ar pesado na suíte nupcial. A imagem se dissipou, e sua mente a levou de volta àquela primeira noite, o jantar onde conheceria Patrick. Sua madrasta Lívia exigiu que usasse uma roupa de grife, algo extravagante e desconfortável. Foi com o coração apertado e a mente resignada que ela se preparou, convencida de que ele seria apenas uma versão mais jovem de seu pai: um homem distante, focado nos negócios, para quem ela seria apenas mais uma peça em um jogo de interesses. A ideia de felicidade nesse casamento, ditado por acordos empresariais, parecia uma piada cruel. Então, seus olhos se encontraram com os dele pela primeira vez, e algo nela se acendeu. Um vislumbre de esperança, uma pequena chama em meio à escuridão de sua resignação. "E se fosse diferente?". Havia algo nos olhos de Patrick, aqueles olhos azuis da família Hawksmoor, algo que não se encaixava na imagem de homem frio e calculista que ela havia construído. Uma promessa silenciosa, um convite inesperado que a fez questionar todas as suas certezas. Mas o tempo, implacável, passou. A pequena chama, que Isabel tentava proteger, foi se esvaindo aos poucos. Eles nunca conseguiam conversar de verdade; as interações eram sempre superficiais, vigiadas, como se estivessem atuando em um palco sob a observação de todos. As palavras, quando existiam, eram sobre banalidades, sobre o clima ou os compromissos, nunca sobre os sentimentos que deveriam unir duas pessoas prestes a se casar. O desânimo tomou conta dela novamente, mais pesado agora por ter ousado sentir algo diferente, por ter permitido que aquela efêmera esperança florescesse. A decepção era um fardo ainda maior porque, por um breve momento, ela acreditou que poderia ser diferente. Naquela noite de casamento, a frustração atingiu o ápice. Sentindo-se patética e rejeitada em sua própria suíte nupcial, Isabel observava por onde Patrick falava no telefone, o mundo exterior invadindo o que deveria ser um momento íntimo. Cada ligação, cada palavra apressada dele ao telefone, parecia um prego a mais no caixão de seus sonhos. E então, ela voltou a olhar para a porta por onde ele saiu apressado, deixando-a sozinha, vestida de noiva, com o coração em pedaços. A decepção era um nó em sua garganta, queimando como ácido. De repente seus olhos pousaram no anel de casamento. Um Rubi, rodeado por pequenos diamantes. Patético. Ela retirou não estava à altura de usar, era apenas uma frase no acordo milionário. Ainda com o gosto amargo da humilhação na boca, Isabel mal conseguiu remover o véu e os grampos que prendiam seu coque, sentindo a seda do vestido de noiva sufocá-la. As mãos tremiam enquanto ela desfazia os botões, cada um deles uma lembrança dolorosa do que deveria ter sido e não foi. As lágrimas, antes tímidas, agora desciam em rios quentes, lavando o rímel e a base, escorrendo pelo queixo e pingando no tecido branco. Não havia dignidade em seus movimentos apressados e desajeitados; apenas um desespero urgente para se livrar daquele disfarce de felicidade. Trocando o suntuoso vestido por um moleton velho e um par de calças de moletom, as roupas mais confortáveis e despretensiosas com que ela viera naquela manhã, Isabel sentiu um alívio mínimo. Pegou a chave do seu carro sem pensar, o coração batendo descompassadamente contra as costelas. As ruas de Porto Cristal, que minutos antes pareciam vibrar com a promessa de uma noite de núpcias, agora estavam silenciosas e sombrias, refletindo o vazio em sua alma. O apartamento de Amélia ficava a poucas quadras do hotel. Isabel dirigiu no piloto automático, a visão turva pelas lágrimas, o foco apenas em chegar ao seu refúgio seguro. Ao estacionar, sentiu um nó na garganta apertar ainda mais. Mal conseguia respirar. Subiu as escadas correndo, os passos pesados ecoando no corredor. Bateu na porta sem pensar, batidas fortes e descompassadas, já soluçando incontrolavelmente antes mesmo que a porta se abrisse. A luz suave do corredor revelou Amélia, que abriu a porta em pijama, com o cabelo bagunçado e os olhos ainda pesados de sono. Um sobressalto percorreu seu rosto ao ver a figura desolada de Isabel com o rosto inchado e manchado de lágrimas e maquiagem borrada, o moleton amassado substituindo o vestido de noiva, e o corpo tremendo de tanto chorar. Sem dizer uma palavra, a expressão de Amélia transformou-se de surpresa para uma preocupação aguda. Ela puxou Isabel para dentro do apartamento, fechando a porta com o pé. Seus braços envolveram a amiga num abraço apertado e protetor, sentindo o corpo de Isabel convulsionar em soluços incontroláveis. Amélia não perguntou o que aconteceu, não precisava. Aquele abraço falava mais do que mil palavras. Apenas a apertou mais forte, acariciando os cabelos de Isabel, oferecendo um porto seguro em meio à tempestade.Patrick dirigiu como um louco até o apartamento de Amélia, o coração disparado no peito. A autorrepreensão ecoava em sua mente, cada palavra um chicote. _ Patrick como você é idiota! Estúpido! Como fui estúpido! Ele precisava consertar, precisava se desculpar, precisava de Isabel. Chegou a rua e avistou o prédio, subiu as escadas quase correndo e bateu na porta do apartamento de Amélia. A porta se abriu, revelando Amélia, que o olhava com uma expressão severa, os braços cruzados. _ Onde está Isabel?, Patrick perguntou, a voz ofegante, varrendo o apartamento com o olhar. Amélia suspirou, a repreensão clara em seu tom. _ Sr. Hawksmoor, acho que você já fez muito hj. Vá embora! _ Por favor Amélia, me ajude! _ Não! Você!...você não pode simplesmente aparecer aqui e... não pode obrigar ela a abandonar a única coisa que a manteve salva! Você não pode afastá-la do que ela ama! Ritter é importante para ela! A palavra fez Patrick paralisar. Ele a olhou, confuso. _ Do que você
Patrick começou, a voz suave, mas com uma leve hesitação. Semblante tenso e o coração disparado. _ Isabel... Eu... eu queria entender um pouco mais sobre sua vida, antes de nos entendermos. Sobre como você se virava financeiramente, por exemplo. Ela suspirou, o olhar distante por um momento. Era algo que ela tinha medo de contar, pois ela teria que contar sobre a carreira como pintora. Tantos anos ouvindo do pai que ela não sabia fazer nada a deixou fragilizada psicologicamente. _ Humm... foi difícil no início, Patrick. Depois que nos casamos, o meu pai... bem, ele cancelou meus cartões. E eu decidi que iria atrás de você, porque... estava chateada depois de tudo, eu... decidi que ia me virar. Morei com Connor e Amélia por um tempo. Fiz uns trabalhos de meio período, sabe? Em cafés, galerias pequenas, lojas... Mas o dinheiro era sempre pouco. Era uma luta para manter as contas em dia, eles me apoiaram. E então, uma coisa aconteceu. Patrick sentiu o corpo gelar. Aquele "uma coi
A noite parecia interminável, mas a presença um do outro, e os pequenos jogos e provocações, tornavam-na suportável. O desejo de escapar e se entregarem novamente à paixão era uma constante, um segredo compartilhado que os mantinha aquecidos na frieza daquela noite de gala. O carro de Patrick deslizava pelas ruas da cidade, deixando para trás o brilho ostensivo do jantar beneficente. Dentro do veículo, quando a divisória subiu separando eles do motorista, a atmosfera mudara drasticamente. O tédio da festa se dissipara, substituído por uma eletricidade palpável entre eles. Patrick virou o rosto para Isabel, seus olhos brilhando no escuro do carro. Sem avisar, seus lábios encontraram os dela em um beijo profundo e sensual. A língua dele explorou cada canto da boca dela, e Isabel respondeu com fervor, suas mãos já nos cabelos dele, aprofundando o contato. O gosto do desejo era o único sabor que importava agora. Ele se afastou minimamente, o hálito quente em sua pele. _ Prepare-se, Isab
Os dias viraram semanas, eles se seguiram com uma mistura agridoce para Patrick. Ele vivia uma vida dupla, dividindo-se entre a euforia de estar com Isabel e a crescente angústia de um segredo que não conseguia desvendar. Quando estava com ela, sentia-se nas nuvens, completamente apaixonado. A doçura matinal de Isabel, que agora se aninhava naturalmente em seus braços, o jeito como ela se perdia na descrição das cores de um pôr do sol ou na complexidade de uma obra de arte, o fascinava. A cada dia apresetava mais a ele do seu universo artístico, mostrando a habilidade em pintar e criar paisagens, a risada dela, leve e contagiante, era a melodia de seu dia. Ele se pegava sorrindo à toa, sentindo o peito aquecido pela simples presença dela. Às vezes, ao vê-la dormindo tranquilamente ao seu lado, Patrick pensava em como sua vida havia mudado, preenchida por uma luz que ele nem sabia que faltava. No entanto, essa felicidade era constantemente atormentada pela sombra de B. Ritter. Patric
No exato momento em que Patrick tentava absorver a notícia sobre Connor, Lizzy apareceu na cozinha, com os olhos grandes e sonolentos. _ Tia Bel, estou com sede, ela pediu, alheia à tensão que pairava no ar. Seus olhos curiosos se voltaram para Patrick. _ Quem é você? Patrick se ajoelhou, um sorriso forçado surgindo em seu rosto. Era preciso manter a calma pela menina. _ Sou o Tio Patrick, Lizzy, ele respondeu, sua voz tentando soar calorosa. Ele se lembrou do presente que havia trazido como desculpa para vir. _ Trouxe algo para você. É pelo.seu prêmio. Ele entregou a ela um embrulho cuidadosamente preparado: um belo kit de pintura, com aquarelas vibrantes, pincéis finos e um bloco de papel de aquarela de alta qualidade. Os olhos de Lizzy se iluminaram. _ Uau! Que lindo! Obrigada, Tio Patrick! Em um instante, a tristeza de Isabel foi temporariamente esquecida por Lizzy, que disparou para a sala, ansiosa para testar seu novo presente imediatamente. Patrick se virou para
A manhã chegou com um vigor renovado para Patrick. Ele adentrou o escritório com um semblante de satisfação. A tensão dos últimos meses, onde carregava sozinho o peso da HS Company, começava a diminuir. Ver seu pai, Arthur, já em sua própria sala, mergulhado em papéis, trazia um alívio palpável. A responsabilidade, antes esmagadora, seria agora compartilhada com o presidente original, e a perspectiva de poder "relaxar um pouco" era um convite bem-vindo. A manhã foi preenchida com reuniões. Patrick, com sua perspicácia habitual, mergulhava nos detalhes da empresa, reajustando estratégias e se familiarizando com os novos fluxos de trabalho que a presença do pai implicava. No meio da tarde, Gerald, seu fiel assistente, entrou na sala com a pilha de documentos do dia para assinatura. Patrick os revisou com atenção, appondo sua rubrica onde necessário. Gerald permaneceu ali, pigarreando levemente. _ Senhor Patrick, tenho uma atualização sobre aquela investigação, Gerald começou, sua
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