A cicatriz na clavícula já era um traço pálido, quase um acento sobre a pele. Vivian prendeu a trança e, antes de vestir o xale, abriu o caderno: o retângulo vermelho do lenço ainda estava desenhado, com uma seta fina apontando para a palavra “rastro”. Ao lado, escreveu “vidro”, e desenhou dois olhos — um que via, outro que refletia. Fechou o caderno com a gravidade de quem guarda uma bússola.
— Hoje a casa está com cheiro de polimento — avisou Gaia, entrando sem cerimonial. — Quando brilham demais, é porque querem esconder os riscos.
— Riscos não desaparecem — respondeu Vivian. — Viram espelho torto.
— E espelho torto mostra quem está torcendo o ambiente — concluiu Gaia, ajustando o blazer. — Vamos testar quem olha e quem vigia.
No corredor do clube, o gerente ajeitava o nó da gravata, educado como ameaça.
— Dois convidados pediram “atenção especial” — disse, delicado. — Nada de mais.
— “Especial” tem muito advérbio escondido — cortou Gaia, com doçura de lâmina. — Nossas condições de