Desde a noite do diálogo no sonho — “Você também ouve?” “Sim.” — Vivian passou a andar com o corpo um pouco inclinado, como quem escuta uma frequência que os outros não percebem. No camarim, prendeu a trança e, antes de passar o batom, escreveu no caderno: “Se duas pessoas acordam com a mesma palavra, então não é só sonho — é ponte.” Ao lado, desenhou um piano aberto e uma linha curva que parecia vento sobre as cordas.
Gaia apareceu com duas xícaras e aquela calma que parece capa de livro. — Hoje a casa está com o volume diferente — disse, pousando as xícaras. — Gente que sussurra alto demais. Vamos trabalhar com silêncio e relógio.
— E com distância — completou Vivian. — Camila anda cavando.
— Eu sei — respondeu Gaia, simples. — Deixa que eu cavo na direção contrária.
Camila chegou sem bater, perfume doce, olhos de quem não dormiu o suficiente. — E então, estrela? — começou, balançando a cabeça. — Ouvi dizer que você anda sonhando alto demais. Cuidado para não acordar no teto errado.