A noite tinha um peso próprio. Na mata, o escuro não era ausência de luz; era matéria. Eduardo caminhava devagar, contando passos, mapeando as curvas da trilha como quem lê uma sentença com a ponta dos dedos. A lanterna, no modo mais fraco, riscava o chão por centímetros, apenas o suficiente para não falhar o passo. No bolso interno, o rádio. No outro, a coragem emprestada do beijo de Vivian.
O som do mato era uma orquestra que não descansava. Água escorrendo por entre pedras, insetos em cadência, folhas roçando como respirações. Eduardo parou, inclinou-se, conferiu o rumo pela estrela que mal se via através do teto de galhos. Seguiu. O mapa mental o levava a uma clareira esquecida — boato antigo de que Azevedo usava uma cabana ali quando precisava sumir sem sumir.
***
No sítio, Vivian não dormia. Aline dividira a noite em turnos, mas ela flutuava entre um e outro como quem não sabe onde pousar. A luz do abajur estava apagada; o gerador, mudo; apenas a chuva fina costurando o telhado