A madrugada se tornara uma língua estrangeira que Eduardo aprendia sílaba por sílaba. O ombro ardia como brasa enterrada, mas ele seguia. O leito seco serpenteava por entre pedras grandes, algumas lisas como osso polido, outras cortantes como promessa ruim. A lanterna ficou no bolso; a noite guiava melhor do que a luz quando a luz denuncia. A cada dez passos, ele parava, ouvia, cheirava o ar — como Aline ensinara. Água não corria ali, mas havia um rumor no fundo, uma lembrança líquida de quando a chuva era senhora do lugar.
Ele chegou a um desfiladeiro estreito, duas paredes de pedra se encarando com apenas um corpo de distância entre elas. Encostou a testa na rocha fria e sentiu a vibração que o chão transmitia. Não era água. Era metal. Eduardo ajoelhou, encostou a palma no cascalho e percebeu um tremor quase musical. Canos antigos de captação, talvez, que passavam perto do sítio. Ele sorriu curto: se o som viajava, ele não estava longe.
Tirou do bolso o bilhete de Azevedo — “Não con