A manhã não amanheceu; apenas clareou devagar, como se Curitiba estivesse com receio de abrir os olhos. Aline já estava de pé quando o telefone seguro tocou com um bip curto. Ela ouviu em silêncio, a expressão endurecendo um pouco mais a cada frase. Quando desligou, ficou alguns segundos encarando a própria mão. Depois, respirou e foi até a cozinha, onde Eduardo preparava café forte e Vivian aquecia as mãos na caneca.
— Encontraram o oficial de ligação — disse Aline, direta. — Morto. Queda de prédio. O relatório preliminar chama de suicídio. Eu chamo de limpeza.
O silêncio se partiu em mil cacos. Vivian apertou a caneca até doer e a soltou antes de quebrar. Eduardo apoiou a xícara na pia, sem beber.
— Tempo e local? — ele perguntou.
— Madrugada. Rebouças. — Aline pousou um envelope plástico sobre a mesa. Dentro, impressões de mensagens de texto: horários, chamadas perdidas, um “ligo já” que nunca foi devolvido. — Ele recebeu uma ligação mascarada dois minutos depois de eu divulgar a r