“Corajoso não é quem não tem medo. É quem tem medo e segue em frente assim mesmo.” — (Clarice Lispector)
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Antes de sair da sala de Dayse coloquei a máscara. Eu vestia um terno grafite, que custou quase três meses de salário; o cabelo preso com firmeza; e o batom vermelho, marcando os lábios como quem destaca uma frase importante.
Cada peça de roupa tinha um propósito de proteção. Cada detalhe parecia uma declaração de guerra.
“Você não vai me quebrar. Não hoje.”
Até o meio-dia, o trabalho tentou me salvar do caos que sentia por dentro: contratos para revisar, prazos que não esperavam, uma ligação tensa com Miguel sobre a parceria Bellucci.
Números, planilhas, cláusulas... Coisas concretas, que faziam sentido.
Quando desliguei o computador, vi Joana refletida no vidro — cabelo preso num rabo de cavalo mais alto do que o de costume, olhos mais baixos, como se ela também carregasse um peso enorme.
Ela trouxe alguns relatórios e, ao devolver, o que consegui oferecer foi uma confiança s