Enzo entrou no quarto, como sempre, sem bater, como se o quarto também lhe pertencesse ― e lhe pertencia mesmo. Ele carregava uma mala de couro preto na mão, o paletó dobrado no braço e o olhar mais apagado que o normal.
Dayse estava jogada na poltrona, com os joelhos encolhidos sob o robe, um livro no colo só para disfarçar, coisa que sempre fazia. Ela já o sentia se aproximando antes mesmo de abrir a porta; tinha aprendido há muito tempo a reconhecer o som dos passos dele.
Ele parou por um instante, seus olhos fixos nela. Dayse ergueu o olhar e, por uma fração de segundo, parecia que o tempo havia congelado, como se o relógio tivesse esquecido de marcar o Tique-Taque. Foi então que ele a surpreendeu novamente, deixando-a sem reação.
— Vou viajar daqui a dois dias — disse ele, com uma voz firme e decidida, como se estivesse comunicando uma notícia irrelevante. A seriedade em seu tom não deixava espaço para dúvidas ou questionamentos. Era uma declaração que carregava o peso de uma dec