“Chave não é só o que abre. Às vezes, é o que pesa no bolso até você decidir que porta abrir.” — Anotação de R.
Eram quase três da tarde. O relógio do corredor marcava o tempo com uma precisão cruel, e meu estômago se retorcia em um nó familiar. Três da tarde sempre me puxava para as três da manhã, como se minha mente insistisse em abrir feridas.
Dayse encerrou a ligação com um suspiro breve, mas eficiente, e deixou três post-its na mesa: imprensa, ONG parceira, fornecedor. Tudo tão meticulosamente normal. Mas o peso no meu bolso era tudo, menos isso.
O cartão parecia pulsar contra minha pele, como se tivesse vida própria.
“Eu nunca esqueci.” As palavras ecoavam, carregadas de algo que eu não sabia se era dor ou outra coisa...
O cheiro de jasmim do nono andar ainda pairava no ar dos elevadores, impregnando o ambiente com uma doçura quase sufocante.
E então, havia o nome ― Helena. Aquela Helena não existe mais.
— Você tem meia hora de intervalo — disse Dayse, sem levantar os olhos do r