Eu sempre começo o dia da mesma forma: café preto, sem açúcar, e silêncio absoluto até as sete da manhã. Silêncio é essencial — é o único momento em que o mundo parece estar sob controle.
Às sete e quinze, estou no carro. Às oito, no escritório. Não existe improviso na minha rotina, e talvez por isso o incidente de ontem tenha me deixado irritado além do necessário. Ficar preso no elevador com a vizinha nova foi um lembrete de que o acaso existe, e eu detesto o acaso.
Chego à sede da empresa e cumprimento o segurança com um aceno breve. O prédio espelhado reflete o sol das oito e meia, e a fachada impecável é uma lembrança diária do legado do meu pai — e do peso que ele deixou sobre mim. Quando decidiu se aposentar há dois anos, eu já estava preparado. A empresa era minha desde sempre, só faltava o título.
— Bom dia, senhor Montenegro — cumprimenta Larissa, minha secretária, com a eficiência de sempre.
— Reunião com o setor financeiro às nove? — pergunto, ajustando a gravata.
— Sim. E