Narrado por Bento
O porão tinha cheiro de pedra molhada e ferro antigo. Uma única lâmpada pendurada no teto fazia o resto do lugar parecer um poço. Colocamos Artur na cadeira de metal, algemas nos pulsos e nos tornozelos, faixa de contenção atravessando o peito. Não havia janelas. Não havia relógios. Só a respiração dele e a nossa.
Eu não gosto de fazer barulho quando trabalho. Barulho confunde quem bate e também quem apanha. Prefiro o silêncio — ele é mais honesto.
— Última chance, Artur — falei, encostando os nós dos dedos no encosto da cadeira atrás dele. — Quem bancou o ataque.
Ele me olhou como se eu fosse um palpite errado. Frio. Arrogante. O velho profissional que já viu muita coisa e acha que vai ver mais.
— Vocês não vão me quebrar — disse, como quem repetia um mantra que um dia funcionou.
— Não sou “vocês”. Sou eu — respondi. — E eu não preciso te quebrar. Só preciso de um nome.
Marcelo trancou a porta com a chave pesada que fazia eco na parede. Aproximou-se devagar, sem sho