Narrado por Bento
O sol ainda não tinha nascido quando abri os olhos.
O quarto estava silencioso, a cidade lá fora mergulhada em sombras azuis. Ao meu lado, Maya dormia como se o mundo estivesse em paz. O rosto dela sereno, o corpo nu sob o lençol bagunçado. Era bonita até dormindo. Mas o que me prendia não era a beleza. Era o jeito que ela fazia meu peito parecer menos blindado.
Toquei de leve a curva do quadril dela, me obrigando a sair da cama devagar, sem acordá-la.
Na cozinha, preparei o que pude com o que tinha: café forte, pão tostado, frutas picadas. Peguei a bandeja, coloquei ao lado da cama e deixei um bilhete rabiscado à mão:
"Precisei sair. Te vejo em breve. Não se preocupa — só vou matar monstros.
– Bento."
Coloquei um beijo leve na testa dela e saí antes que a coragem falhasse.
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Gregório já me esperava do lado de fora, encostado num carro preto, cigarro entre os dedos, blazer escuro, olhar de quem não dorme há dias. Quando ele me viu, soltou a fumaça com um sorriso se