Narrado por Artur
O monitor do hospital apitava num ritmo irritante, como se ficasse lembrando o tempo todo que eu ainda estava aqui, por pouco. O soro pingava, o cheiro de antisséptico arranhava a garganta, e a luz fria do teto não perdoava nem sombra. Do meu lado, a Marina dormia numa poltrona improvisada, encolhida sob um casaco que eu nem lembrava de ter em casa. O rosto dela, mesmo no sono, carregava preocupação. Eu merecia. Ela não.
A mão direita doía até no osso; a esquerda tremia sozinha cada vez que eu lembrava do porão. Não era só da surra — era memória curtindo. Bento trabalha com silêncio. E com tempo. O tipo de homem que não precisa gritar pra você entender que a vida é um empréstimo curto.
Peguei o celular na gaveta da mesinha com cuidado pra não acordar a Marina. As juntas estalaram como metal frio. Travei os dentes. Deslizei a tela. Três da manhã. O corredor estava morto. Eu não. Ainda.
Rolei os contatos e parei no nome. Brian. Engoli seco. Não devia ligar — mas devia