(POV Selene)
A água fria escorreu pelo meu corpo como navalha. Ardia nos cortes, nos hematomas, mas eu não reclamei. Cada dor era lembrança do que ouvi: “Vai descansar, Selene.” A voz dele ainda ecoava, seca, dura, como se eu fosse de vidro.
Não sou de vidro.
Não sou fraca.
Esfreguei os ombros até a pele ficar vermelha, mas não era sujeira que eu queria tirar. Era a sensação de impotência, de ter sido jogada no chão e ouvida como se não tivesse escolha. Ronan me beijou como se me possuísse e depois me dispensou como se eu fosse nada.
Eu não sou nada.
Fechei os olhos sob o jato gelado, respirei fundo e deixei a água bater até o corpo tremer. Quando saí, os músculos ainda queimavam, mas o fogo vinha de dentro.
No depósito, todos dormiam. Dorian recostado contra a parede, sombra eterna até em sono. Caelan largado sobre a mesa, um braço caído, o sorriso de quem sonha com caos. Ronan, deitado perto da porta, mão na lâmina como se pudesse lutar até dormindo.
Passei os olhos por eles em silê