Mundo ficciónIniciar sesiónEu nunca deveria ter me apaixonado por ele. Eu sabia que era errado, mas nunca imaginei que esse amor me tornaria sua prisioneira. Subestimada, acusada e presa em uma teia de traições, só me resta uma saída:lutar para provar minha inocência. É minha única chance de provar quem realmente sou e de conquistar a liberdade que tentaram me roubar. Vou lutar para ganhar. E, na minha vitória, reivindicarei o alfa que nunca deveria ser meu.
Leer másTARYN
Eu me sentei diante do espelho de mogno, penteando cuidadosamente meus longos cabelos negros, enquanto a mente se recusava a se concentrar no ritual de preparação. Hoje seria o dia em que seria apresentada ao meu noivo, um alfa mais velho, vindo de fora e recentemente viúvo. Eu não o vi, mas sua fama de homem ríspido chegou até mim pelas empregadas. Infelizmente, eu não podia convencer meu pai do contrário quando ele já tinha tomado a decisão.
Meus dedos deslizaram pelos fios macios, arrumando cada mecha, mas meu coração estava em outro lugar. Não havia expectativa, nem entusiasmo, nem qualquer vestígio de curiosidade. Que diferença faria se ele me aceitasse ou me rejeitasse? Meu coração, há muito, pertencia a outro, o marido da minha irmã, o alfa que eu jamais poderia ter. Um amor proibido, sufocado pelo dever e moral.
O espelho refletia meu rosto pálido, quase translúcido sob a luz da lampada. Apertei levemente as bochechas, tentando induzir um rubor que não vinha naturalmente. “Se ao menos houvesse cor suficiente para esconder a falta de vida em meus olhos”, pensei com ironia.
Meu pai, agia como se todo o futuro da família dependesse desse casamento. E talvez dependesse. Mas meu coração estava em pedaços. Eu me arrumei, ajustando o corpete do vestido de seda, tentando não tremer diante da ideia de cumprimentar um homem que mal conhecia, cuja presença deveria trazer prestígio, mas que não despertava nenhum interesse real em mim.
Enquanto me erguia, tentando adotar a postura impecável esperada de uma Windmere, uma parte de mim se encheu de ansiedade silenciosa. Não por ele, mas por aquilo que eu realmente desejava e jamais poderia ter.
Descendo as escadas de carvalho polido, senti meu coração acelerar, não pelo noivo que me esperava, mas pela presença de quem eu realmente desejava esquecer. Lá estavam eles. Kalinda e Caius, minha irmã e meu cunhado. E, ao cruzar os olhos dele, quase fraquejei. O olhar de Caius era intenso, o verde reluzia e se expandia em pontos de luz, parecendo mudar de cor constantemente, também parecia íntimo, mas ainda assim distante. O carinho que ele nutria por mim era meramente fraternal, e eu lutava contra cada batida descompassada do meu peito, decidida a anular meus próprios pensamentos.
Ele estava perfeito em seu terno azul-marinho, impecável, etéreo. A visão dele deveria me machucar mais do que qualquer coisa, mas também me lembrava do que eu perdera antes mesmo de realmente ter. Respirei fundo, lembrando a mim mesma que aquela noite significava outra coisa para mim. Meu passaporte para longe dessa tortura. Eu ficarei noiva de outro homem, mesmo que seja um velho rude, e isso finalmente traria alguma distância entre mim e Caius. Por mais que amasse a ilha, qualquer desculpa para afastar meu coração dele seria bem-vinda.
No fim da escadaria, Kalinda me recebeu com seu sorriso habitual, sempre tão perfeita, gentil e encantadora, e minha sensação de inadequação só aumentou. Ela sempre parecia flutuar pela vida, enquanto eu era apenas a desgraça da família, a garota frágil de beleza mediana, filha de uma amante. Suspirei, cumprimentando-a com cortesia. Para Caius, ofereci apenas um aceno contido.
— Já viu seu noivo? — perguntou Kalinda, com aquela doçura que me irritava sem que ela percebesse. — Um homem interessante.
Mas antes que eu pudesse responder, Caius franziu levemente o cenho.
— Seu pai está sendo precipitado, Kalinda. — A voz firme, mas carregada de cuidado, me fez estremecer. — Ele é muito velho para ela.
E naquele instante, senti novamente o peso de meu coração dividido, de minha própria insignificância diante da perfeição da minha irmã e da autoridade silenciosa de Caius.
— Ele é um alfa, Caius, e tem um bom patrimônio — rebateu Kalinda, a voz suave e firme ao mesmo tempo. — Além disso, não tem filhos.
Ela olhou para mim e sorriu, um sorriso genuíno, radiante, que deixava claro o quanto aprovava a decisão do nosso pai. Eu apenas devolvi um sorriso contido, de lábios fechados. Nunca soube como me impor, nunca aprendi a confrontar ou questionar, principalmente após passar a maior parte da minha vida doente, ouvindo que jamais conseguiria um bom casamento. Palavras cruéis quando se tem dez anos, mas que martelavam a vida de qualquer mulher ômega sem habilidades. Casar e ter uma família é nossa principal função, ou ao menos assim dizia mamãe. Ela repetia todos os dias que eu não tinha muitas escolhas por ser quem era, por não ser uma filha legítima.
Caius me lançou um olhar, profundo e cheio de reservas.
— Quer que eu interfira? Posso falar com seu pai se você quiser. Não precisa se casar até encontrar alguém adequado. —perguntou baixo, quase em confidência.
Mu peito se apertou, já criando ilusões com o cuidado em seu tom. A única pessoa em quem eu conseguia pensar era ele. Encolhi-me levemente, lutando contra o impulso de ceder, de pedir ajuda, de abrir meu coração. Ele percebeu e apenas assenti com a cabeça, em negativa.
— Meu pai fez a melhor escolha para mim.
A testa de Caius se franziu com a minha decisão silenciosa, mas antes que pudesse protestar, Kalinda deu uma risada baixa, melodiosa, que a tornava ainda mais encantadora. Havia uma leveza nela que raramente se via, e era impossível não notar o quanto ela estava realmente feliz essa noite.
— Seu pai deveria ter escolhido um nobre, não um mero comerciante. —Caius resmungou, parecendo irritado.
Abaixei a cabeça, tentando ocultar minha vergonha por suas palavras. Ele estava certo, eu deveria casar com um nobre por ser filha de um nobre.
Minha irmã soltou uma pequena risada, e então engatou seu braço no meu, puxando-me suavemente em direção ao salão principal.
— Querido, você sabe que Taryn é uma filha bastarda, papai não pode fazer exigências. Ele conseguiu o melhor para ela. — minha irmã beijou minha bochecha. —Vamos, irmãzinha, você precisa conhecer o seu noivo.
TARYNAs palavras dele ainda ecoam quando sinto meu corpo reagir.— Quem? — sussurro, embora a resposta já esteja ali, flutuando na minha cabeça.Eu não quero ouvir. Não quero que minha suspeita vire fato.Conviver com a ideia é uma coisa…Mas a certeza?A certeza vai me quebrar de um jeito que talvez eu não consiga remendar.O ruivo abre a boca, pronto para me dar o nome, quando um uivo rasga a floresta.É animalesco.Tão perto que sinto a vibração atravessar no ar ao meu redor.O ruivo endurece sobre mim. Seus olhos saltam para as árvores, tensos.— A fera… — ele murmura, o medo escorrendo pela voz. — Está caçando.Ele tenta se levantar um pouco para enxergar melhor, e aproveito a distração.Empurro o peito dele com toda a força qu
TARYNCuidado.Alguém sussurra, mas quando olho para os lados, me vejo sozinha. Todos os competidores se espalharam pela floresta e sumiram. Dando uma rapida olhada na direção de onde o som da voz veio, vejo a sombra de um homem, mas seu rosto está camuflado pelas sombras, ele some por entre as árvores antes que eu possa identificá-lo e fico sozinha novamente.Sigo na direção oposta, tendo a certeza que estarei mais segura sozinha.Caminho alguns passos, sentindo o ar úmido da noite agarrar minhas roupas. A floresta engole qualquer som que não seja o das folhas se movendo sob meus pés. O aviso ainda reverbera na minha mente, inquieto, como um sino pendurado em uma corda.Eu deveria ignorar. Provavelmente é alguém tentando me desestabilizar antes mesmo de a caçada começar. Mas como aquela presença desapareceu, rápida e silenciosa, deixa meu peito apertado.Respiro fundo e continuo na direção oposta, como se pudesse escapar também da sensação de estar sendo observada.O céu, escondido p
TARYNMinhas costas começam a doer de ficar tanto tempo em pé, mas enquanto o barão Shefield fala dos quão indomáveis são seus guerreiros por crescerem e treinarem na ilha da pedra e do quanto ele lamenta pelo restante de nós não ter nenhuma chance, eu me sinto sortuda, porque agora só falta meu pai falar para que eu possa me servir do banquete. Meu estômago está vazio após passar o dia sem comer nada. A caçada iniciará a meia-noite, quando a lua estiver sendo avistada por todos.Do meu lado, um dos homens da ilha dos campos verdes, resmunga do quanto está faminto. Sua pele é escura, com um brilho convidativo.Ele é um dos mais altos e possui braços fortes, com seu cabelo enrolado chegando até os ombros. Ele me pega olhando e rosna.— Desculpe. —sussurro, influenciada pela educação rí
TARYNA porta da pequena casa onde me deixaram bateu com força quando os homens do meu pai saíram, e me deixaram sozinha no silêncio abafado do cômodo. Havia um cheiro suave de ervas queimadas no ar, o mesmo aroma que minha mãe usava quando queria afastar febres. Só aquilo já era suficiente para apertar meu peito.Demorou um tempo até eu conseguir realmente me olhar no espelho torto encostado na parede. Os dias de cela haviam deixado marcas: meu rosto estava mais fino, meus olhos mais escuros, meu cabelo… bom, meu cabelo era um ninho. Ondas pesadas, emaranhadas, caindo desordenadas pela cintura.Penteá-lo foi um teste de paciência e dor, mas quando terminei e consegui trançá-lo, senti algo que não esperava sentir naquele momento: dignidade.
TARYNA noite anterior ao meu julgamento chegou com um frio úmido que se infiltrava pelos ossos. As paredes da cela pareciam respirar escuridão, e eu comecei a pensar que talvez nunca mais visse a luz do dia. Eu já estava resignada a tentar dormir quando passos ecoaram no corredor.Passos firmes.Meu coração congelou.A porta da cela abriu com um rangido arrastado, e lá estava ele. Edmond Windmere, impecável mesmo àquela hora, as vestes pesadas carregando o cheiro de lavanda e chuva recente. O brilho das tochas refletia no broche de sua casa, e por um segundo eu quis acreditar que ele viera… por mim.Mas o olhar dele me lembrou exatamente quem eu era.Não sua
TARYNEu não sei de onde tiro forças para erguer o rosto, talvez porque já não tenha mais nada a perder. Ele continua ali, parado como uma estátua no meio da minha cela, tão limpo, tão composto, tão… inalcançável.— Não é só isso, não é? — murmuro, limpando o nariz na manga suja do vestido.— Você sabe qual é a punição.A frase sai trêmula.Caius me olha. Mas não diz nada. Não pisca, não suspira, não demonstra um mínimo movimento de negação ou concordância. Apenas me olha, com aqueles olhos verdes que sempre me confundiram. A cor deles fica ainda mais intensa a cada segundo, como se fossem os únicos pontos vivos ali dentro.
Último capítulo