O entardecer cedeu espaço a uma escuridão preguiçosa, daquelas que não caem de uma vez, mas vão se espalhando pelas paredes como tinta derramada. A casa parecia observar o processo com atenção. Cada sombra que surgia era absorvida por ela como se alimentasse algo antigo, algo que precisasse daquele escuro para se mover.
Helena acendeu duas lamparinas, mas a claridade parecia frágil. Mesmo assim, era suficiente para iluminar o disco sobre a mesa principal. O objeto parecia maior do que era — não em tamanho, mas em presença. Como se carregasse dentro dele algo que não deveria ter espaço no mundo físico.
Lyria estava sentada diante do disco, movendo os dedos lentamente sobre o pano que o cobria, sem tocá-lo diretamente. Os olhos dourados brilhavam com uma concentração que misturava curiosidade, respeito e… receio.
Kael permaneceu perto da porta, observando sem intervir. O silêncio dele preenchia o ambiente, criando uma espécie de zona de proteção que Helena agora percebia conscientemente