Mundo de ficçãoIniciar sessãoExatos dois anos após aquele baile, Amélia sorria verdadeiramente ao entregar o copo de um expresso duplo ao senhor à sua frente.
— Tenha uma excelente noite! — Acenou para o senhor e suspirou limpando uma pequena gota de suor na testa. Pediu licença para Lucca, o outro funcionário do pequeno café, e foi ao banheiro. Lavou o rosto e encarou as mãos. Simon havia a ajudado a diminuir as cicatrizes grotescas, agora elas não passavam de linhas e relevos na mão, muito mais fácil de lidar com as pessoas agora que elas não ficavam encarando suas mãos. Porém, provavelmente nunca mais iria tocar sem sentir dor. Seu nervo ulnar e mediano haviam sido parcialmente lesionados. Simon havia dito que ela tinha tido sorte do cirurgião ser péssimo com anatomia, pois ele não tinha chegado nem próximo ao nervo radial que poderia ter paralisado suas mãos para sempre. Ainda era difícil realizar algumas tarefas do dia a dia, mas com a fisioterapia que Simon ela conseguia se sentir confiante para segurar as bandejas do café. — Está tudo bem? — Lucca perguntou assim que viu Amélia. — Sim, só fui lavar o rosto. — Sorriu voltando para o seu lugar no balcão. Quando Lucca estava em loja, ele ajudava preparando o café e entregando os pedidos nas mesas para amenizar o esforço de Amélia, enquanto ela preparava os pedidos, fazia a cobrança e entregava os pedidos rápidos no balcão. — Hoje foi um dia calmo, não é? — Comentou olhando para a rua. — Gosto e desgosto dos dias calmos. — Disse Lucca se apoiando no balcão. — Gosto porque nos dias calmos eu chego em casa menos tenso, é melhor para fazer qualquer outra coisa, mas desgosto porque parece que o dia nunca acaba, às vezes chega ser entediante. — Compartilho do mesmo sentimento. — Riu levemente olhando o colega de trabalho. — Faz um ano e meio que você está aqui, não é? — Hum — Amélia ficou pensativa fazendo os cálculos. — Acredito que sim. Entrei como uma ajudante para o natal em 2021, acabei ficando. — Acho que, fora eu, você foi a funcionária que mais durou nesse café. — Lucca disse rindo. — Sério, você precisa amar muito esse lugar para ficar aqui por mais de seis meses sem discutir com algum cliente. Lucca estava no café há um pouco mais de três anos, gostava daquele lugar porque a dona o deixava fazer as sobremesas. Lucca era apaixonado por confeitaria e o seu sonho era abrir uma em algum lugar do mundo, mas Amélia achava que ele iria acabar comprando a Primrose & Patisserie da dona Juliette. O sino da porta despertou os dois da conversa que logo ajeitaram a postura. Um homem alto de ombros largos e uma expressão séria entrou na confeitaria. O homem era jovem, não devia ter mais do que 25 anos. Uma pele clara e muito bem cuidada, olhos de um azul tão lindo que Amélia se pegou imaginando o mar neles, seu cabelo era levemente loiro. — Boa tarde, como posso ajudá-lo? — Amélia o olhou dando um sorriso que dava para todos os outros clientes. — Um café americano e uma berry cheesecake, por favor. — Falou sem olhar diretamente nos olhos de Amélia. — Claro, fica 8 libras. — Lucca sorriu levemente para Amélia enquanto ia preparar o café. — Qual a forma de pagamento? — Crédito. — Falou sem muita emoção já esticando o cartão em direção a maquininha. — Poderia embalar a sobremesa para viagem? — Perfeito, iremos embalar. O café é para viagem também? — Amélia perguntou após o bip da maquininha. O homem só balançou a cabeça em afirmação e suspirou só então olhando diretamente para Amélia. Por um momento, o homem franziu o cenho como se conhecesse a mulher que estava diante dele, seus olhos passearam para os ombros, mas estavam cobertos pelo uniforme branco. — Prontinho. — Lucca disse entregando o café e a caixa com a sobremesa para o homem. — Embalei a cheesecake como você pediu, mas recomendo não a balançar muito, ela pode acabar se partindo antes de chegar no destino. — Certo, obrigado. — Balançou a cabeça e saiu, sem ao menos um sorriso. — Ele te comeu com os olhos. — Lucca disse assim que o homem saiu da cafeteria. — O quê? Não! — Amélia o olhou incrédula. — Lucca, você precisa parar de achar que todos os homens me querem. Alguns só são educados. — Não acho, conheço homem. — Lucca disse debochado. — Amélia, você é linda, cabelos longos e levemente loiro, além dos olhos claros. — Você por acaso quer me comer? — Perguntou levantando uma sobrancelha. Lucca engasgou, fazendo Amélia rir enquanto ele ficava vermelho. — Céus, não! — Lucca a olhou desesperado. — Você é uma amiga, apenas! — Viu? — Amélia sorriu vitoriosa quando o viu abrir e fechar a boca sem uma resposta. — Nem todos vão me olhar assim. Aliás, eu senti o olhar mais como curiosidade, por algum motivo, tive a sensação de que o conhecia, acho que ele pode ter sentido o mesmo. — Tudo bem, eu estou errado. — Lucca levantou a mão derrotado. — Vamos limpar a loja, já estamos fechando e eu quero ir para a cozinha preparar algumas sobremesas que vi que acabaram. — Quer ajuda com as sobremesas? Posso ficar para ajudar cortar uma coisa ou mexer outra. — Não, eu agradeço, mas nós dois juntos na cozinha é desastre na certa. — Lucca balançou a cabeça rindo. Amélia já havia tentado ajudá-lo uma vez, mas acabou derrubando o pote todo de açúcar em uma receita, também havia descascado e picado quase 15 quilos de maçã que deveriam durar a semana toda. — Certo, talvez eu tenha exagerado nas maçãs. — Falou rindo enquanto pegava o álcool e o paninho para limpar a mesa. — Mas você não me disse que deveriam ser 15 maçãs, quando disse 15 imaginei que fossem quilos. — Isso porque você cozinha em casa. — Balançou a cabeça colocando a mão na barriga que doía de tanto rir. — Mas em casa é diferente, eu achava que em uma confeitaria iria muito mais. — Fez um biquinho. — E vai, de fato, mas aqui eu prezo pelo frescor das sobremesas, então sempre as faço no dia anterior. — Tudo bem, vamos limpar isso aqui e eu te deixo livre para fazer as suas receitas.






