Mundo de ficçãoIniciar sessãoAmélia atravessou o portão da imensa mansão Bennet sentindo as lágrimas caírem sem sua permissão. A casa estava vazia, fria e hostil. Nenhum sinal da madrasta ou das gêmeas, o que ela agradeceu internamente.
Subiu as escadas apressada e correu até o seu próprio quarto. Abriu o closet e puxou as malas vazias com as mãos trêmulas. O coração batia acelerado, os pensamentos se embaralhavam. Quando finalmente conseguiu respirar, pegou o telefone e discou o número que conhecia de cor. Tessa estava deitada no sofá assistindo a um filme com a sua mãe quando o toque do telefone quebrou o silêncio da sala — Tess... — a voz de Amélia saiu entrecortada, o choro escapando sem controle. — Lia? — perguntou já erguendo o corpo, a preocupação evidente no tom. — Lia, o que aconteceu? Amélia sentou-se na beira da cama, uma das mãos pressionando o peito como se pudesse conter a dor. Seu pai não havia falado com ela sobre o anúncio que ele fez no baile, muito menos sobre como ele faria aquilo. Seu pai apenas agiu como um empresário que não se importava com os sentimentos de ninguém. — Por favor... — murmurou com a voz trêmula. — Por favor, me deixa ficar com você essa noite. — Lia, do que está falando? — Tessa já estava de pé enquanto sua mãe pausava o filme e encarava a filha preocupada. — Lia, onde você está? — Meu pai me expulsou… — Amélia confessou tentando controlar o choro. Sua voz não passava de um sussurro seguido de soluços — Eu não tenho para onde ir. — Você está sozinha? A megera e as cobras estão com você? — Tessa escutou um murmúrio em negação de Amélia e sentiu o peito apertar. — Eu chego em 5 minutos. Tessa desligou antes que Amélia pudesse responder e virou-se para a mãe. — Mamãe, podemos terminar de ver o filme depois? Preciso ir até a casa da Lia. — Tessa disse enquanto prendia o cabelo com um hashi e limpou a boca com as costas da mão. — A Lia está bem? — Fiona perguntou se sentando no sofá em alerta. — Ela me disse que foi expulsa… ela estava chorando tanto que mal consegui entender. Fiona não hesitou. Pegou o roupão, as chaves do carro e olhou para a filha. — Eu te levo, vamos logo. Amélia era, para ela, como uma segunda filha. Desde que Catherine, sua melhor amiga dos tempos de faculdade, havia morrido, Fiona cuidava da menina com o mesmo carinho e apreço de antes. Ela vira Amélia nascer, crescer, aprender a tocar piano, superar o luto… e agora precisava estar lá por ela novamente. — Eu não acredito que aquele canalha do Richard colocou a própria filha para fora. — Fiona grunhiu frustrada enquanto dirigia até a mansão Bennet. — Mamãe, você sabe que o Senhor Bennet se transformou depois que casou com a megera da Miranda. — Aquela cobra asquerosa. — Fiona respirou fundo. — Vamos pegar tudo de Amélia, ela ficará conosco. O trajeto era curto, então chegaram rápido. Tessa digitou a senha do imenso portão e correu para dentro da casa Fiona estacionou o carro e respirou fundo, não pensando muito sobre como a casa tinha se tornado sem vida após a morte de Catherine. — Lia? — Tessa entrou no quarto de Amélia e arfou ao ver a amiga encolhida ao lado de duas malas. A garota parecia tão pequena e frágil naquele momento. Amélia levantou os olhos e encarou a amiga de infância, sentindo o peso de tudo o que havia passado até aquele momento esmagar seu peito. Fiona entrou no quarto logo atrás e sentiu um ódio absurdo ao ver o quão negligenciada ela estava sendo. Seu quarto tinha a mesma decoração de anos atrás, as cortinas pareciam empoeiradas, não havia nada de novo ali, enquanto o resto da mansão parecia ter saído de fotos do P*******t. — Meninas, vamos arrumar as coisas. Não sei quando Richard ou Miranda vão chegar. — Fiona disse enquanto pegava uma das malas que estava ao lado de Amélia e deu um beijo no topo da sua cabeça. Fiona e Tessa moviam-se rapidamente pelo quarto, abrindo o closet e enchendo as malas com as roupas de Amélia, enquanto ela recolhia suas joias e produtos de beleza com as mãos trêmulas. O som dos cabides batendo e dos zíperes sendo fechados preenchia o silêncio sufocante do quarto. Quinze minutos depois, quatro malas já estavam cheias e sendo colocadas no porta-malas do carro. Fiona bateu a tampa com firmeza e respirou fundo. Foi quando a voz aguda e irritante ecoou. — Posso saber o que está acontecendo aqui? — A voz de Miranda cortou o ar, carregada de veneno. Amélia se virou lentamente. Miranda acabava de descer da limousine parada diante da mansão, acompanhada apenas do motorista. Estava usando um vestido de seda vermelha e um colar que, ironicamente, havia pertencido à mãe de Amélia. Fiona deu um passo à frente, ficando entre as duas. — Pergunte ao seu marido, Miranda. — Quem deu autorização para você entrar na minha casa? — Miranda cruzou os braços, arqueando as sobrancelhas com desdém. — E você, Amélia... — o olhar dela desceu do rosto da garota até os sapatos com um sorriso debochado — ...seu pai me contou que a deserdou, achei que iria apenas sumir, não se comportar como uma ladra empacotando as coisas às escondidas. Tessa deu um passo à frente, mas Fiona segurou o braço da filha antes que ela respondesse. — Cuidado com o que fala, Miranda. — Fiona manteve o tom firme, mas os olhos faiscavam. Miranda soltou uma risada seca. — Cuidado? Com o quê? Com a pobrezinha expulsa pelo próprio pai? — Ela inclinou a cabeça, falsa piedade na voz. — Talvez ele tenha finalmente percebido que a filhinha de ouro não passa de um estorvo... igual à mãe dela foi. O som do tapa ecoou antes mesmo que Tessa piscasse. Fiona, trêmula de raiva, havia acertado Miranda com força o bastante para fazê-la dar um passo para trás. — Você não tem o direito de falar o nome da Catherine! — Fiona gritou, com os olhos marejados. — Nem o dela, nem o da filha dela! — Sua... — Miranda levou a mão à bochecha, incrédula. — Chega! — Amélia interrompeu, a voz rouca e firme, surpreendendo até a si mesma. — Eu já estou indo embora. Fique com a casa, com as joias da minha mãe, com o meu pai e com o resto do império dele. — Ela ergueu o queixo, os olhos úmidos, mas decididos. — Só não ouse mais falar o nome da minha mãe. Por um momento, Miranda ficou muda. Fiona segurou a mão de Amélia e a guiou até o carro, com Tessa logo atrás.






