Mundo de ficçãoIniciar sessãoAinda não eram dez horas quando Amélia foi chamada. Nenhum candidato havia permanecido por mais de cinco minutos na sala, o que a deixava dividida entre a esperança e o nervosismo.
— Por favor, sente-se — pediu Aaron, indicando a cadeira diante da ampla mesa de vidro. — O senhor Blake já volta, ele precisou ir ao banheiro. Só peço que faça silêncio, Noah está dormindo no berço. Amélia assentiu com um sorriso contido e pousou a bolsa ao lado da cadeira. Assim que olhou ao redor, percebeu que a sala presidencial estava longe da imagem que ela imaginava. Papeis sobre a mesa, brinquedos espalhados pelo chão, uma pequena pelúcia caída ao lado de um notebook aberto e, ao fundo, um berço branco que destoava completamente do ambiente corporativo. Ela pegou o celular e digitou uma mensagem rápida para Tessa: “Já é minha vez. O senhor Blake saiu por um instante… estou um pouco nervosa.” Antes mesmo que pudesse guardar o celular, um choro agudo preencheu o ambiente. Amélia se levantou de imediato, o coração acelerado. O som vinha do berço. Amélia caminhou em direção ao choro e ali estava ele. Um bebê pequeno e frágil, de olhos azul-claros e cabelos loiros tão lisos quanto seda recém-passada, o rostinho ainda molhado de lágrimas. Assim que seus olhares se cruzaram, o choro diminuiu. Noah esticou os bracinhos, num gesto claro e desesperado por colo. — Ei, pequenino… — sussurrou Amélia, sorrindo com ternura enquanto o acolhia nos braços. — Teve um pesadelo, foi? O bebê se aconchegou contra seu ombro, o corpo relaxando aos poucos. Ela o embalava suavemente, olhando calmamente para o rosto sereno do bebê que começava a dormir novamente. Foi então que a porta se abriu com um estrondo, fazendo o coração dela saltar. O homem que entrou, alto, elegante, mas visivelmente ofegante, segurava uma mamadeira. Damian Blake havia corrido assim que ouviu o choro pelo monitor da babá eletrônica. Amélia deu um pequeno sobressalto, e Noah, assustado com o barulho, começou a resmungar. Ela o embalou novamente, ninando com cuidado. — Tudo bem — murmurou, sem erguer os olhos. — Ele acabou de acordar e está assustado. Damian hesitou, segurando a mamadeira como se não soubesse o que fazer com ela. Amélia, com um gesto natural, estendeu a mão. — Deixe comigo. Eu dou o leite para ele. Por um instante, o homem apenas observou, talvez curioso, talvez surpreso com a serenidade daquela desconhecida. Então, cedeu a mamadeira. Amélia sentou-se na poltrona próxima à janela e começou a alimentá-lo com delicadeza. Aos poucos, o pequeno Noah fechou os olhos novamente, adormecendo seguro em seus braços. Quando ela finalmente se levantou para colocá-lo de volta no berço, sua mão tremeu devido ao esforço, mas ela o colocou no berço e fechou as mãos em punhos. Então Amélia sorriu e virou-se para Damian Blake. Seus olhos se arregalaram instantaneamente ao ver o homem que havia atendido na confeitaria alguns dias antes. Damian franziu o cenho e a encarou, seu olho passeou pelo ombro de Amélia e uma expressão indecifrável passou pelo seu rosto. — Obrigado. — Disse finalmente. Um suspiro pesado saiu pelo seu nariz. — Noah não é o tipo de criança que fica calma com qualquer um, é a primeira vez que o vejo dormir tão rapidamente. — Fico feliz que ele tenha dormido tranquilamente. — Para ser sincero, ele não dorme assim nem comigo, então posso dizer que você fez um bom trabalho. — Deu um sorriso fraco e indicou a cadeira. — Bom, vamos lá… Damian pegou o currículo de Amélia e franziu o cenho novamente. Ficou alguns segundos encarando o conteúdo dele enquanto Amélia sentia o peito apertar em ansiedade. — Você trabalhou por um ano e meio em uma confeitaria local… — disse em voz alta encarando Amélia. — Teve algum outro emprego além desse, senhorita Hart? Amélia sentiu o corpo tremer com a pronúncia do seu sobrenome na boca de Damian Blake. — Informais, senhor. — Amélia pigarreou tentando manter a voz o mais neutra possível. — Já fiz alguns trabalhos de meio período como babá. Damian a encarava como se procurasse algo nela, Amélia não sabia ao certo o que ele queria encontrar, mas já se sentia vitoriosa pela sua entrevista estar durando mais do que todas as anteriores juntas. — Senhorita Hart, você tem namorado? — Damian perguntou olhando os documentos à sua frente. — O quê? — Perguntou surpresa e arregalou os olhos quando viu Damian a encarando. — Não senhor. Mas por quê? — Pergunto pois muitos homens não gostariam de ver sua namorada trabalhando na casa de outro homem. Além disso, terá dias em que eu talvez precise que você fique até mais tarde, o que poderia te trazer vários incômodos. — Damian explicou calmamente. — Mora com os pais? — Ah, com relação a isso não é problema. — Amélia se apressou em dizer. — Eu moro com minha amiga, não tenho nenhum problema caso tenha que ficar até mais tarde. Damian assentiu e então chamou o secretário, no instante que Aaron apareceu, Amélia sentiu o ombro cair. Provavelmente não tinha passado e Damian havia chamado seu secretário para levá-la até a saída. — Aaron, dispense os outros candidatos, já encontrei a babá do Noah. Tanto Amélia quanto Aaron arregalaram os olhos. Aaron saiu logo em seguida para fazer o anúncio para os outros candidatos enquanto Amélia ainda ficava incrédula por ter passado. — Vamos falar sobre a remuneração e o seu trabalho em si, senhorita Hart? Damian chamou a atenção de Amélia e conteve um sorriso ao vê-la tão desnorteada. — O trabalho será de segunda a sexta das oito às cinco da tarde, são nove horas por dia, quarenta e cinco por semana. O valor da hora trabalhada é de 25 libras. Tudo bem para você? — Damian se recostou em sua cadeira. — Além disso pagarei por qualquer hora extra fora do seu expediente, se de segunda a sexta eu tiver algum imprevisto e precisar que você fique mais tempo, pagarei 30 libras por hora a mais, se surgir uma emergência no final de semana e eu precisar de você, pago 50 libras por hora. Amélia arregalou os olhos fazendo os cálculos mentais, aquela proposta era mais do que irrecusável. Seu sonho de fazer faculdade estava ainda mais perto.






