Mundo de ficçãoIniciar sessãoO aroma de café fresco se espalhava pela cozinha do imenso apartamento. A fina chuva batia contra a janela, e Amélia observava as gotas escorrerem pelo vidro enquanto misturava leite ao seu cappuccino.
Tessa surgiu na cozinha, o cabelo preso às pressas e uma caneca com o logo da NovaCore Group na mão. Vestia um moletom com a frase code, coffee & chaos que fazia Amélia sorrir sempre que via. — Não vi você chegar. — Tessa olhou a amiga e sorriu fraco. Precisava de café urgentemente. — Tess, são dez e meia da noite, estou em casa desde as sete. — Amélia fez uma careta quando ouviu o estômago da amiga roncar. — Jantou? — Não. — Confessou fazendo um biquinho. — Cheguei às cinco e fui direto para o quarto, só saí do quarto porque acabou meu café. — Projeto novo? — Perguntou pegando um prato para colocar a macarronada que havia feito. — O Senhor Blake me deu um projeto extremamente importante. — Suspirou dando uma garfada na comida. — Os burburinhos sobre mim voltaram. Os sêniores acham que eu sou só uma garota rasa que está ali para brincar. O Senhor Blake disse que me deu esse projeto porque sabe do meu potencial, sabe que eu sou capaz de entregar o melhor de mim e provar que sou uma verdadeira desenvolvedora. Ele disse que só assim os sêniores reconheceriam o meu potencial. — Acho que ele não está errado, ele fez o que deveria ter feito. — Amélia disse pensativa enquanto tomava um gole do seu café. — E como você se sente com isso? — Um pouco nervosa, para falar a verdade. — Riu suspirando. — Eu estou feliz de ser reconhecida pelo senhor Blake, ele sabe que apesar de eu ter vindo de uma família rica, estou ali por mérito próprio e não por influência, e ele admira muito isso. — Tessa tomou um gole da água que Amélia havia servido e sorriu para a melhor amiga. — Eu quero provar para aqueles desenvolvedores machistas que sou tão boa quanto eles, e que foi-se o tempo que a TI era só de homens. — Fico extremamente feliz que você esteja dando duro. — Amélia sorriu. — Eu sei o quanto você é esforçada, e merece estar onde está. Além disso, é nítido que o senhor Blake também vê isso. — Ah! — Tessa exclamou com a comida ainda na boca levando um olhar de repreensão da amiga. — Desculpa — sorriu terminando de mastigar. — Seu pai continua tentando investimentos da NovaCore, ouvi o senhor Blake reclamar frustrado do quanto seu pai era insistente. — Conheço ele bem o suficiente para saber que ele não vai parar enquanto a NovaCore não investir nele, ou ao menos apoiá-lo colocando os filmes e documentários nas plataformas de streaming da sua empresa. — Amélia revirou os olhos terminando seu café. — Bom, ele vai morrer tentando. — Tessa riu dando um sorriso de lado. — Ninguém sabe ao certo o porquê o senhor Blake evita o seu pai, ao que parece, dois anos atrás eles até tinham uma certa possibilidade de cooperarem, mas, do nada, tudo ruiu. — Isso não me choca nem um pouco, a soberba do meu pai tende a afastar bons investidores. — É… — concordou se levantando para lavar seu prato. — Mas tem outra coisa, uma proposta para você, na verdade. — Uma proposta? O que seria? — Você me disse que ganha 13 libras por hora, seu salário mensal da o que? — Tessa perguntou fazendo os cálculos mentais. — Duas mil libras por mês? Te sobra quanto? — Por aí, levando em consideração que eu gasto 500 libras por mês no mercado e alguns gastos necessários comigo mesma, me sobra umas 900 libras por mês para ir para a poupança. — E se eu te disser que o senhor Blake está procurando uma babá para o filho dele? Não sei bem o horário, mas ouvi ele dizer que será flexível de acordo com a agenda dele. — Babá? — Amélia disse pensativa. — Eu sei que o filho dele é bem novinho, mas não sei se serviria para ser babá. Além disso, quanto ele paga a hora? Precisa valer a pena para que eu saia da confeitaria. — Ele irá pagar 25 libras a hora. — Amélia arregalou os olhos. — Parando para pensar, o trabalho seria de segunda a sexta, já que aos finais de semana ele sempre trabalha em casa, na pior das hipóteses você teria que trabalhar uma vez ou outra em emergência, mas ainda assim — Tessa disse calculando. — Que sejam 10 horas por dia, de segunda a sexta, você receberia umas cinco mil libras por mês. Amélia ficou boquiaberta fazendo os cálculos mentais, se o horário fosse flexível, ela poderia até mesmo continuar na confeitaria aos finais de semana para ajudar Lucca. Além disso, poderia fazer sua faculdade sem precisar ficar com medo de não conseguir pagar a mensalidade ou os materiais, já que só a faculdade iria quase duas mil libras. — Certo — começou Amélia ponderando a ideia. — Imaginando que eu consiga esse emprego, posso começar minha faculdade no próximo ano. Tessa sorriu vendo a amiga se animar. Desde que começaram a morar juntas, Tessa junto aos seus pais tentaram inúmeras vezes oferecer ajuda com a faculdade dela, mas ela queria conseguir sozinha e eles respeitavam isso. — Quando será a entrevista? — Perguntou ansiosa. — Na quarta-feira, às 9 da manhã. — Acho que dá tempo de ir para a entrevista e depois ir para a confeitaria. — Disse pensativa. — Lia. — Tessa chamou ficando séria. — Eu sei que você nutre um carinho enorme pela confeitaria, sei que não quer deixar o Lucca e a senhora Juliette na mão, mas você precisa pensar no seu futuro. Antes de ir para a entrevista, converse com eles, deixe claro que se você passar, sairá. — Sinto que seria injusto sair assim, do nada. — Amélia fez um biquinho para a amiga, Tessa ficou ainda mais séria. — Eu sei, eu sei. Vou conversar com eles. Tessa se levantou e deu um beijo na bochecha da amiga. — Não fique chateada, pense no seu futuro. Essa é uma oportunidade única. Amélia assentiu suspirando, Tessa tinha razão. Por mais que gostasse da padaria, não conseguiria fazer sua faculdade tão cedo. Ela tinha dinheiro guardado, mas pagaria no máximo dois anos de sua faculdade, sem pensar nos custos dos materiais, o que a deixaria ansiosa sempre que olhasse a conta bancária.






