Mundo ficciónIniciar sesiónArthur's POV
Receber o pedido de divórcio de Isabela foi como um choque elétrico travessando meu corpo. Por anos, u a amei à minha maneira, mesmo que muitas vezes me sentisse impotente diante da intensidade de sua personalidade. Mas agora, ver que ela queria acabar com tudo, cortar o único vínculo que nos unia, troue uma mistura de incredulidade, medo e urgência que eu não estava preparado para enfrentar.
Quando sentei à mesa do nosso apartamento, os papéis de divócio à minha frente, snti uma estranha calma antes da tempestade. Eu sabia que Isabela era determinada, que não hesitaria em buscar sua liberdade. Mas havia algo em mim que se recusava a simplesmente aceitar. Algo dentro de mim dizia: não assim, não desse jeito.
Respirei fundo e olhei para ela. Estava firma, olhos fixos em mim, como se desafiasse minha própria reação. E, naquele instante, percebi que não poderia simplesmente concordar com o que ela queria. Não sem lutar, não sem que ela entendesse que havia mais entre nós do que qualquer papel ou decisão impulsiva pudesse resumir.
— Isa... você está certa sobre muita coisa — comecei, tentando escolher minhas palavras com cuidado. — Mas não pode simplesmente cortar tudo assim. Não da forma que pensa.
Ela me olhou, supresa, talvez esperando resistência, talvez esperando que eu aceitasse facilmente sua decisão. Mas a verdade é que eu não conseguia aceitar. Cada memória, cada promssa silenciosa, cada gesto compartilhado ao desses anos não poderia ser descatado tão facilmente assim.
— Arthur...— disse ela, firme, mas com uma ponta de incredulidade — Você não entende. Eu preciso disso. Preciso da minha liberdade.
— Eu entendo, Isa — disse, aproximando-me dela, mantendo a voz firme, mas carregada de emoção - mas você não está sozinha nessa história. Eu não posso simplesmente desaparecer da sua vida e nem você da minha. Eu não vou pemitir que nosso vínculo seja reduzido a papéis e assinaturas. Ainda somos nós, mesmo que você queira me ignorar.
A tensão entre nós era quase insuportável. Cada palavra minha parecia carregar mais peso do que qualquer gesto que eu pudesse fazer. Eu percebia a frustração dela, a determinação férrea, mas também via algo que poucos conheciam: seu medo de se entregar ao desconhecido, mesmo depois de me forçar a casar com ela. Era um paradoxo que consumia minha mente.— Arthur… você não entende — repetiu, a voz baixa, quase trêmula. — Preciso cortar esse vínculo, preciso me encontrar fora do que vivemos.
Eu a observei, sentindo o peso das suas palavras, mas sabia que ela não podia compreender o que sentia naquele instante. — Isa… liberdade não significa sempre estar sozinha. — Meu tom era calmo, mas firme. — Eu não vou permitir que você se afaste desse jeito. Não enquanto houver amor entre nós.
Ela suspirou, desviando o olhar, e senti um nó apertando meu peito. A intensidade de nossas emoções preenchia a sala, como se cada respiração fosse medida, cada gesto tivesse significado oculto. Aquele momento era decisivo. Eu poderia ceder, deixar que ela tivesse seu caminho, ou agir com a coragem que a situação exigia.
— Eu… — comecei, mas as palavras pareciam insuficientes para expressar tudo o que sentia. — Eu não vou aceitar o divórcio da maneira que você planejou. Não é sobre controlar você. É sobre entender que ainda temos algo que não pode ser ignorado.
Isabela me encarou, olhos arregalados, e pela primeira vez, notei a incerteza em sua expressão. Havia algo ali que eu ainda podia alcançar, uma conexão que nem a determinação mais férrea poderia apagar.
— Você quer que eu fique? — perguntou, com um fio de voz, quase sussurrando.
— Não apenas que você fique — respondi, aproximando-me, mantendo o olhar firme — quero que entendamos juntos. Que decidamos juntos. Não quero perder você. Não agora, nem nunca.
O choque daquelas palavras foi evidente. Ela recuou ligeiramente, como se ponderasse cada sílaba que eu pronunciava. Sabia que ela pensava que minha reação seria resignada, que eu simplesmente concordaria ou me afastaria. Mas eu não podia. Eu não aceitava perder alguém que era parte da minha essência, da minha história, de cada passo que eu havia dado até ali.
— Arthur… — disse ela, a voz ainda carregada de incredulidade — você não percebe o que estou fazendo. Não é sobre nós… é sobre mim. Sobre me recuperar, sobre me sentir completa sem depender de você.
— E eu posso ser parte dessa sua recuperação — interrompi, com firmeza. — Mas isso não significa que precisamos nos separar. — Um silêncio pesado pairou entre nós. — Isa, você não precisa enfrentar tudo sozinha. Não quando ainda temos um ao outro.
Ela desviou o olhar, e eu percebi que minha proximidade e minha sinceridade a afetavam de maneira que eu não podia mensurar completamente. Pela primeira vez em muito tempo, havia uma fissura na parede de determinação que ela erguera ao meu redor. E isso me deu esperança, mas também medo. Medo de que a intensidade de nossos sentimentos pudesse desmoronar ou explodir de maneiras que nenhum de nós previra.
— Você sempre sabe o que dizer, não é? — murmurou, quase com um sorriso triste. — Sempre encontra o modo de virar a situação a seu favor.
— Não é questão de vantagem — disse, com calma, aproximando minha mão da dela. — É questão de não deixar que algo real se perca por um erro de julgamento ou um impulso.
Ela me olhou, e pude ver em seus olhos a confusão, a dúvida e, de forma sutil, o reconhecimento de que ainda nos conectávamos profundamente. Aquilo era mais do que palavras; era nossa história, nossa força conjunta, nossa complexidade emocional transbordando em uma conversa que ultrapassava qualquer lógica.
— Então você não vai aceitar que eu saia da sua vida? — perguntou, finalmente encarando-me diretamente.
— Não, Isa — respondi, firme, mas carregando emoção — não dessa forma. Não enquanto houver algo entre nós que ainda respira, que ainda importa.
Ela fechou os olhos por um instante, respirando fundo. O silêncio que se seguiu foi pesado, quase sufocante. Mas havia algo no ar, algo que não podia ser ignorado: a tensão emocional, o poder que ambos exercíamos um sobre o outro, e a certeza de que nada mais seria simples, previsível ou fácil.
— Então… o que faremos? — perguntou, finalmente, com um tom que misturava curiosidade, medo e um toque de esperança.
— Primeiro… — disse, segurando sua mão suavemente — vamos parar de agir como se o divórcio fosse uma solução mágica. — Um leve sorriso atravessou meu rosto. — Precisamos conversar, enfrentar nossas dores, nossas mágoas, sem fugir ou culpar. E, se houver espaço, reconstruir algo que seja nosso, mas dessa vez, consciente, verdadeiro e sem pressa.
Ela me olhou, e algo mudou. Não era apenas aceitação; era o início de um diálogo silencioso, profundo e essencial. Eu sabia que o caminho seria tortuoso, mas também sabia que estávamos juntos de uma forma que ia além do que qualquer papel poderia definir.
O restante do dia passou em um silêncio tenso, mas significativo. Cada gesto era carregado de significado, cada olhar transmitia emoções que não precisavam de palavras. Percebi que Isabela estava começando a compreender que a separação não era a resposta para tudo, e que, mesmo em sua força e determinação, ainda havia espaço para nós, para nós dois, mesmo com todos os conflitos e dores acumuladas.
Quando a noite caiu, percebi que nossa dinâmica havia mudado. Ela ainda era forte, determinada, intensa, mas havia espaço para diálogo, para vulnerabilidade, para compreensão mútua. E eu, que sempre carregara meus próprios conflitos internos, senti uma mistura de alívio e responsabilidade. Não podia mais apenas reagir. Precisava agir com consciência, com cuidado, e com a intenção de reconstruir algo que realmente valesse a pena.
Enquanto ela dormia, olhando para o teto, percebi que o pedido de divórcio não havia sido o fim, mas o início de uma nova fase. Uma fase em que ambos teríamos que confrontar nossas emoções, enfrentar nossos medos, e decidir se poderíamos, de fato, permanecer juntos, dessa vez, não por imposição ou força, mas por escolha consciente.
E, pela primeira vez em anos, senti que, apesar das dores, das traições, e das incertezas que nos aguardavam, havia uma possibilidade real de reconstrução. Possibilidade que, se aproveitada, poderia transformar não apenas nosso relacionamento, mas também a nós mesmos.







