Silêncio Entre Nós

Isabela's POV

O barulho do mar era o único som que ainda a fazia sentir algo.

As ondas batiam contra as pedras lá fora, num ritmo constante, como se tentassem conversar com ela em uma língua esquecida. Isabela observava o horizonte pela janela, envolta em um silêncio que pesava mais do que qualquer discussão. Desde o dia em que enviara o pedido de divórcio, Arthur não tentara mais falar com ela — ou talvez tivesse tentado, mas ela se recusara a ouvir.

A casa parecia maior agora. Vazios entre os móveis, entre os cômodos, entre o coração e a razão. Ela queria acreditar que havia feito o certo. Que se afastar era a única forma de manter o pouco que restava de si intacto.

Mas a cada noite em claro, a culpa e a saudade a visitavam como sombras que não sabiam ir embora. Ela queria entender por quê, após ela ter feito tamanha decisão, ele simplesmente não a deixou ir, não assinou os papéis, não é como se el estivesse atrás da fortuna da família dele ou da fortuna que ele construiu à parte do império da família.

Isabela respirou fundo. As lembranças insistiam em voltar.

O cheiro do mar, o som das risadas, a água fria... e o grito de alguém.

Fechou os olhos. Tentou reviver aquele dia — o dia em que quase morreu, ainda pequena. Ou teria sido Luana? As lembranças vinham distorcidas, como se a mente brincasse com ela. Tudo o que restava era a sensação do desespero, o peso da água sobre o corpo, e a mão que a puxara para a superfície.

Arthur.

Abriu os olhos rapidamente.

Ele sempre acreditara que salvara **Luana** naquele dia. E Luana nunca o corrigira, nem mesmo quando ela estava acamada, e simplesmente escondeu o fato de Arthur.

A irmã sempre soube manipular as versões da história. Sempre soube o que dizer para parecer a mais frágil, a mais digna de atenção. E Isabela — tola — deixou isso acontecer.

— Você está pálida — disse Luana, surgindo na sala como se tivesse lido seus pensamentos.

Isabela deu um leve sorriso, sem emoção. — Estou bem.

Luana aproximou-se, com aquele olhar que misturava preocupação e cálculo. — Desde que mandou aquele papel ridículo pro Arthur, você não é mais a mesma.

— Não fale dele — respondeu Isabela, fria.

— Ele te ama, Bel. — Luana forçou um suspiro. — Só está confuso.

Isabela quase riu. Quase. — Amor? Isso não é amor.

— Então o que é?

Silêncio.

Isabela não soube responder. Tudo o que sentia por Arthur ainda estava lá — latejante, impossível de apagar. Mas agora havia algo a mais: medo. Não de Arthur, mas de si mesma. Da mulher que se tornava cada vez que o olhava e lembrava que tudo o que construíram podia ter nascido de uma mentira.

Ela se levantou, indo até a cozinha. Pegou um copo d’água e encostou as mãos na bancada de mármore, sentindo o frio atravessar a pele.

Luana a observava com o mesmo ar de falsa ternura.

— Você devia falar com ele — insistiu. — Ele está sofrendo.

— Eu não posso — respondeu, firme.

— Por quê?

Isabela virou-se, e por um segundo, o controle vacilou em sua voz. — Porque algumas verdades matam mais do que o silêncio.

Luana nada respondeu. Apenas a encarou por tempo demais, com algo sombrio nos olhos. Então sorriu, suave, e saiu do cômodo.

Quando o som dos passos desapareceu, Isabela sentiu as pernas tremerem. Levou a mão ao ventre. Tinha sentido algo estranho nos últimos dias — enjoo, tontura, sensibilidade. Parte dela já sabia o que era, mas não queria confirmar.

Até agora.

Mais tarde, no banheiro, o teste de gravidez caiu em suas mãos como uma sentença. Duas linhas. Claras. Inevitáveis.

O mundo pareceu girar por um instante.

Ela se sentou no chão frio e encostou a testa nos joelhos.

Um filho.

De Arthur. O herdeiro da familia Vasconcellos, obrigado a se casar e mudar seu nome para Moreau.

O coração acelerou, e lágrimas quentes escorreram antes que pudesse contê-las.

Ela o amava. Ainda amava. Mas agora não podia permitir que ele se aproximasse.

Não depois de tudo.

Não depois do que estava por vir.

A gravidez se tornava uma armadura e uma prisão ao mesmo tempo. Era a única razão que tinha para continuar firme em sua decisão — se afastar, proteger o bebê de um passado manchado por mentiras. Mas, ainda mais importante afastar a "família" adotiva dela dessa criança, para que não sofresse igual a ela. Adoção, as vezes se esquecia disso, e pegava pensando o motivo de todos sempre distorcerem sua vida para outros, enquant a bela e adorável Luana ficava ali protegida com seus pais e dois irmãos.

O som do celular interrompeu o choro.

Uma mensagem desconhecida.

> “Eu sei a verdade sobre o dia na praia.” <

> “Ela mentiu pra ele. E pra você.” <

O coração de Isabela parou por um segundo.

O celular escorregou de suas mãos, caindo no chão. Ela o pegou rapidamente, mas o número já havia sumido — bloqueado, inexistente.

Saiu cambaleando até a janela. Lá fora, o mar rugia sob o céu cinzento.

O vento trouxe consigo o cheiro de sal e algo mais... medo, talvez, nostalgia.

Ela sabia que o passado estava voltando. No momento que decidiu descobrir seu passado, ela abriu a caixa de pândora, e agora não havia mais volta.

E dessa vez, não havia nada que ela pudesse fazer para impedir.

Isabela tocou o ventre, as lágrimas voltando com força.

— Eu te protegerei — sussurrou. — Mesmo que eu precise destruir tudo por isso.

Lá fora, uma figura parada do outro lado da rua observava a janela iluminada. Um homem de terno escuro, imóvel, como parte da paisagem.

Quando Isabela apagou a luz, ele tirou um envelope do bolso e o olhou. Nele, havia uma foto antiga: duas meninas na praia e um menino sorrindo ao fundo.

A legenda, escrita à mão, dizia:

> “O dia em que tudo começou.” <

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