Alena Petrova
Horas antes…
Estava difícil até lembrar quando foi a última vez que comi direito. Dias, acho. Dava para contar nas pontas dos dedos os goles de água que me deixaram: uns poucos, mornos, com muito gosto de cloro… eu acho que era cloro…
A cabeça pesava, a barriga doía, e a luz aqui dentro era sempre a mesma, uma lâmpada preguiçosa que não tinja pressa de iluminar nada. Eu já não sabia se estava sonhando ou se estava acordada. Só sabia que estava cansada até de ter medo.
Não precisava mais das cordas. Eles tiraram os nós um dia desses porque perceberam que eu não sairia andando por aí. Deve ter sido um observador deles que anotou: “fraca, não vai longe”. Me deixaram com as mãos e os pés livres só para eu me lembrar de que era gente, mas a sensação de não saber que hora do dia era ainda permanecia.
Assim, a voz dele apareceu de repente, vindo da porta, com aquele riso que sempre me causava arrepios:
— Tsc, tsc, tsc… — Ele caminhou devagar, porque quando alguém se divertia,