Lucila Drumond é muda. Desde os cinco anos de idade, o silêncio é seu único idioma, selado por uma tragédia brutal. Desde então, ela vive como uma sombra delicada nos corredores de uma mansão luxuosa, observando o mundo através de gestos e olhares, sem jamais ser verdadeiramente ouvida. Mas dentro de Lucila, arde uma chama, o amor proibido e absoluto por Vitório Darius, um homem vinte anos mais velho, que ela ama em segredo desde a adolescência. Vitório Darius foi criado para comandar um império. Sob o peso do nome da família mais poderosa holding da América Latina, ele sempre soube o que era esperado de um Darius. Honra, disciplina, domínio, e ele cumpriu cada quesito impecavelmente. Até que tudo ruiu quando confiou na mulher errada. Traído pela mulher que o levou à ruína, Vitório hoje vive entre o exílio emocional frio e o prazer brutal onde ele enterra o que restou de sua alma. Mas o destino decide ouvir a voz do coração ansioso e inocente de Lucila. Quando seus pais selam um acordo de casamento entre Lucila e Vitório, ela acredita estar vivendo o seu maior sonho. Já ele, enxerga no contrato uma penitência, e uma chance de redenção perante sua familia. Mas nada poderia prepará-los para o turbilhão que se aproxima. Porque a chegada de uma criança, vira a vida dos dois de cabeça para baixo. Entre a busca por fazer o que é certo, Lucila, mesmo em silêncio, tem um coração capaz de amar incondicionalmente o garotinho que esconde um segredo aterrador. E Vitório, mesmo tentando protegê-la, pode destruí-la somente com a sua presença. Mas o poder dita regras e o passado cobra caro, duas almas marcadas vão descobrir que há silêncios que falam mais alto que qualquer palavra, e desejos que podem salvar ou condenar
Leer másPrólogo
SOB O PESO DA VERDADE Lucila atravessou o saguão de mármore da Acrópole com passos incertos e curtos. Não esperou que a recepcionista a anunciasse, e ninguém barrou sua entrada. Todos sabiam quem ela era. A senhora Lucila Darius, esposa de Vitório Darius, o CEO daquele império. Quem olhasse para ela, poderia supor que sua elegância clássica e refinada fazia jus a sua posição, mas por dentro tudo estava quebrado, sob a máscara, ela era só o fantasma de uma mulher destruída. Acionou o elevador, fechando as mãos em punhos, tentando conter as lágrimas que queimavam os seus olhos. Seu corpo tremia, o coração batia tão forte que chegava a ecoar nos ouvidos, abafando o som dos saltos que pareciam perfurar o chão brilhante. Cada passo era uma punhalada contra o peito que já não sabia como respirar. A dor dilacerava seus pulmões, ela apertou os olhos com força, consumida pelo gosto intragável do engano e da desilusão. Ao abrir a porta do escritório, não permitiu que a secretária a detivesse. Atravessou o ambiente rapidamente e abriu a porta de madeira esculpida com um movimento firme. Vitório ergueu os olhos do computador. Os olhos verdes acinzentados encontraram os dela como lanças frias e afiadas. A surpresa passou em meio segundo. A voz dele veio grave, sonora e dura como uma rocha. — O que você está fazendo aqui, Lucila? Ela mal podia controlar o próprio corpo. Se fosse capaz de falar, nesse momento, ela estaria gritando de revolta. Caminhou até a mesa e atirou o envelope em cima dela com força. Fotos escorreram da abertura, deslizando sobre o tampo escuro como facas cortantes. Imagens dele mais jovem, totalmente nu atracado com uma mulher loira de olhos verdes intensos, seus corpos se fundindo entre os lençois vermelhos. Ela era Astrid. A mesma mulher com quem ele teve um filho. A mesma criança que Lucila acolheu em sua casa e em seu coração como se ele tivesse nascido de seu próprio ventre. Lucila puxou o celular com as mãos trêmulas. Digitou com rapidez, seus olhos cheios de lágrimas e mágoa; ela estendeu o aparelho para ele ver. "Agora entendo o motivo da sua rejeição. Eu era tão cega pelos meus sentimentos que nunca percebi o real motivo." Vitório se levantou, os olhos brilhando perigosamente, imponente, poderoso, e veio em direção a ela. — Lucila, não tire conclusões sem saber de tudo. — A voz dele tentava ser comedida, mas o tom afiado era inegável. Ela recuou, o punho contra o peito, como se pudesse conter a dor que a sufocava. Com os dedos ágeis, digitou outra mensagem. "Você foi cruel comigo todo esse tempo, porque eu nunca fui importante para você. Porque quem você queria NÃO ERA EU!" Vitório se aproximou mais, e segurou seu braço, mas ela o arrancou com tanta força que quase caiu para trás. Ele a segurou pela cintura, antes que desequilibrasse. A expressão dele mudou subitamente. Irritação, fúria, revolta dura e fria, contida. — Pare com isso já! Não seja tão impulsiva, Lucila. Você quase se machucou! Ela digitou com pressa, os dedos trêmulos, enquanto se afastava novamente, mesmo com a insistência dele em segurá-la. "Não me toca! Você não tem mais esse direito." Os grunhidos sufocantes escapando de sua garganta dolorida. Ergueu o celular com mais uma mensagem, sua expressão devastada, os lábios trêmulos, olhos marejados. Se sentia tão miserável, que só de olhar para o rosto de seu marido, ela queria desaparecer. "Eu já sei de tudo! Essa mulher é a mãe do Olavo. Você dormia com outra enquanto se negava a dividir o quarto comigo, inclusive a mesma cama. Me rejeitava para dar para sua amante tudo o que deveria ser da sua esposa. Eu te dei tudo, todo o meu amor, Vitório! E você jogou isso no lixo como se não fosse nada. Você me enoja!!" O celular escorregou de seus dedos, quando suas mãos pequenas perderam completamente a firmeza, caindo no chão com um baque. Lucila abraçou o próprio corpo, soluçando, o frio cravando em sua espinha desde sua infância, consumiu seu interior como uma terrível avalanche congelante. As pernas perderam a estabilidade. Vitório se abaixou e pegou o aparelho. Ele leu as mensagens em silêncio total. Um instante suspenso no tempo. Ao se levantar, ele largou o celular sobre a mesa e segurou os ombros dela, ignorando seus protestos enfraquecidos por sua vulnerabilidade. A mão enorme alcançou o rosto dela, seus dedos esfregando seu rosto com movimentos ásperos. — Lucila, pare. Pare de chorar! Você precisa se acalmar e me ouvir, porque não importa o que você pensa que sabe. Nada vai mudar o fato de que você é a minha esposa. Ela esmurrava o peito dele sem força, tentando se afastar, mas ele não se movia nenhum centímetro. As lágrimas se tornando um mar fluido, interminável, cristalino e transparente. Lucila pegou o celular outra vez e escreveu. "Não, eu não sou. Não há mais nada entre nós. Nenhuma relação de MENTIRA vai apagar o que você fez! Agora que eu sei de tudo, Vitório, eu só consigo sentir uma coisa por você. Desprezo!" Vitório leu, rapidamente. Seu rosto ficou mais austero, os traços tensos, as sobrancelhas se unindo em um só franzido profundo. Ele segurou o rosto dela com ambas as mãos, obrigando-a a olhá-lo nos olhos. — Escuta bem o que eu vou te dizer, Lucila. — A voz dele era uma promessa e uma maldição ao mesmo tempo. — Você nunca, NUNCA vai se separar de mim. É uma Darius, carrega o meu sobrenome, e você quer queira ou não, é a minha mulher! Mesmo que pense que tem o direito de se separar, você é minha. Só MINHA, entendeu? Lucila fechou os olhos com força, as lágrimas escorrendo sem parar. O coração dela gritava, mesmo que a voz não saísse, e que o silêncio perpétuo incomodasse e a diminuísse mais do que nunca. Sem que esperasse, a boca de Vitório cobriu a dela. Se apossando sem gentileza, sem pedir permissão, só exigindo. As mãos fortes a abraçaram de uma forma, como se ele nunca mais fosse permitir que ela se afastasse; o calor do corpo dele se irradiando pelo dela, a respiração rápida dele retumbava em seu peito forte. O cheiro tão conhecido e tão marcante a invadiu no mesmo instante que a língua dele invadiu a boca dela. A mente de Lucila ficou em branco quando a exploração firme e possessiva se enveredou dentro da boca dela, tocando cada parte de sua cavidade, sugando sua língua, forçando-a a corresponder. Uma mão segurou firmemente a base de seu pescoço, movendo a cabeça dela conforme ele queria. O gosto dele se tornou embriagante, como um vinho envelhecido em barris de carvalho por várias décadas. Lucila arfou contra ele, sua língua formigava, sua pele fervia, sua boca se movia involuntariamente, querendo sentir mais. Os movimentos dele mudaram, se tornando mais sensuais, lânguidos. Lucila se perdia nos lábios dele, na força bruta de seu corpo que a comandava tão perfeitamente. Ela nunca o teve de verdade, mas ele a possuía por completo. Mesmo na dor. Mesmo na rejeição, ela sempre foi dele.LucyO silêncio incômodo não era típico da mesa dos Darius. Entretanto, não pretendia abordar esse assunto na frente de Olavo, que era o único que conversava animadamente sobre o torneio de xadrez que estava chegando no colégio, ainda esse mês.Vitório permanecia concentrado na tela espatifada do celular, que segundo ele, caiu do bolso enquanto falava com Ticiano lá fora. Mas Lucy o conhecia bem demais para acreditar naquela mentira.Certamente, ele recebeu a notícia da fuga de Astrid, e isso estava o afetando mais do que ela tinha previsto.O peso sobre os ombros de seu marido era enorme, e ela podia sentir que ele mais uma vez tentava segurar o mundo sozinho.O jantar se encerrou, e ele subiu para contar uma história para Olavo e por o pequeno para dormir. Lucy ainda ficou sentada à mesa remoendo aquele comportamento distante e preocupante.Quando Mila veio retirar a mesa, ela ainda estava lá olhando para a sua taça de cristal vazia. - O que ainda está fazendo aqui, menina? Deveri
VitórioQuando Lucila chegou, ela estava diferente da mulher confiante e decidida que saiu por aquela porta.Ele foi para o lobby assim que a ouviu conversando com Mila. Ela estava um completo caos, parecia preocupada e aflita, mas antes que pudesse abraçá-la e perguntar o que houve, Olavo desceu as escadas correndo e partiu para ela, seus olhos brilhando de amor pela mãe.Imediatamente Lucy sorriu, abrindo os braços para ele, o abraçando forte e girando com seu filho.- Meu menino... – ela disse, o enchendo de beijos. – Como foi na escola hoje? Entregou seu projeto de robótica.- Sim mamãe, a professora disse que tenho muitas chances no campeonato de invenções, e...Os passos de Vitório foram interrompidos pela vibração de seu celular. Ele o pegou e viu o nome de Ticiano na tela. “Que porra aconteceu agora”Ticiano era muito educado e comedido para ligar para alguém na hora do jantar. Criado por uma família italiana, ele absorveu seus valores, e para eles, as refeições eram sagradas.
Beth se esforçava para parecer que estava tudo bem, mas era evidente que isso não era verdade.A vontade de Lucy era levá-la para algum lugar, longe das vistas da governanta assombrada, e então descobrir o que houve. Mas nesse momento, tudo o que podia fazer era garantir que veria Beth de novo.- Eu fiquei muito surpresa com a sua visita Sra. Darius. – ela disse, depois de se sentar na extremidade da sala. Ela parecia querer manter certa distância, como se o abraço emocionado de ambas, há poucos minutos não tivesse acontecido. O comportamento da moça doce e bondosa, estava muito diferente do que conheceu.- Combinamos de nos chamar de maneira menos formal, se lembra. – disse, com um sorriso forçado. – Me chame de Lucy.- Talvez eu tenha sido muito precipitada. – ela disse desviando o olhar. – Em que posso ajudá-la?- Sabe porque estou aqui Beth. – Lucy começou, como ela insistia em olhar para o jardim lá fora, com aquele olhar perdido, Lucila foi direto ao ponto. – Quero fazer o exam
O riso de Sam preencheu o interior do carro.A caminho do prédio onde Hans Andersen possuía uma cobertura digna de um rei, elas estavam conversando, e como sempre, sua amiga notou as marcas remanescentes da noite de amor selvagem.- Lucy, você e o cunhado precisam dar um tempo, ou esse bebê vai nascer na companhia de outro. - Não fale assim... – Lucy dirigia nervosamente pelas ruas apinhadas de São Paulo. Um carro a seguia à distância, e ela imaginou que fosse a elite de segurança especializada que Vitório contratou. – Pensei que logo iria desaparecer, mas ainda estão visíveis em algumas partes.- Ah, não seja tão tímida. Quando o Beto e eu nos casamos, eu estava grávida da Octávia, ficamos quase uma semana sem ver a cara de ninguém, só fazendo amor, comendo e dormindo. Meu pai veio me visitar logo depois, e me perguntou porque tinha marcas por toda parte, eu disse a verdade.- Que era?- Estamos em lua de mel, oras. Lucy riu da desenvoltura de Sam. Nunca seria capaz de tamanha tran
LucyO sono a abandonou no meio da noite. De pé, encostada na porta do terraço, Lucy contemplava a noite, com a cabeça fervilhando em pensamentos. Ela não queria demonstrar o quanto estava afetada pelo que Bettany disse, nem mesmo admitir que aquilo aconteceu.Por outro lado, se sentia culpada. Pela forma com que tratou a moça, que só trouxe bons sentimentos ao conhecê-la. Beth parecia ansiosa e realmente eufórica com a possibilidade de serem irmãs, e não tinha como ela saber que se isso fosse verdade, Lucila poderia ter tido outro caminho. Poderia ter tido um pai biológico que a livraria da negligência da mãe que a deixou sozinha para se prostituir e usar drogas. E possivelmente nunca teria conhecido Felipe.Quando Beth mostrou a foto de Christian Clintwood, foi como se o seu sangue congelasse nas veias. Ela soube que não era uma história mirabolante. Realmente eram iguais, e isso trouxe uma avalanche de sentimentos contraditórios.E também perguntas. Muitas perguntas.Sobre o home
VitórioEm dias como hoje, Vitório contava os segundos para voltar para casa, feito um adolescente imaturo. Tudo o que se relacionava com Lucila tinha esse mesmo efeito sobre ele.Ela ficou dois dias indisposta. Não só pela forma com que fizeram amor, mas também pela visita daquela moça na manhã seguinte. Subindo as escadas, se encontrou com Mila. A velhaca o ajudava a ficar de olho em Lucy, principalmente durante sua ausência, quando estava na Acrópole.- Bem vindo de volta, senhor. – Mila cumprimentou, carregando uma pilha de toalhas alvas.- Obrigado. – ele olhou para cima. Não havia nenhum sinal da presença de Lucila ou de Olavo no andar de baixo. – Ela já se recolheu com Olavo?- Não. Eles estão no terraço. – Mila respondeu. - Como ela está? - Está um pouco melhor, não a vi chorando nenhuma vez. Além disso, estava cozinhando com o pequeno na cozinha, eles insistiram em preparar o jantar. - Ótimo. – respondeu, sentindo o peso em seu peito aliviar. Estava em uma grande negocia
Último capítulo