LISBOA | PORTUGAL
SOFIA
O apito da chaleira cortou o silêncio como um grito agudo, mas eu não consegui me mover. Era como se meu corpo tivesse sido tomado por cimento. Estática, os olhos colados na tela do notebook, onde a imagem dela — Isabella Martins Ferraz — estampava a transmissão ao vivo como uma maldição elegante. Mesmo após o divórcio, essa maldita mulher ainda usava o sobrenome do Eduardo.
Quando esse inferno terá fim?
A legenda piscava abaixo da tela com letras frias, impessoais. Mas nada nelas era mais impessoal do que o olhar calculado daquela mulher. A mulher que me tirava o sono. Não por ciúmes. Não por insegurança. Mas por revolta. Por um senso de justiça que queimava no meu peito como brasa viva.
“Quero mostrar que mudei, que sou uma nova mulher.”
A voz dela soou doce, mansa, controlada como quem recita um texto decorado. Uma atriz treinada. Cada palavra medida, cada pausa estratégica. Era o tipo de voz que poderia enganar o mundo — menos a mim.
Senti o estômago se re