Alguns Meses Depois
EDUARDO
O dia amanheceu com um silêncio quase sagrado. Havia algo no ar — não só o cheiro de chuva, mas uma sensação inexplicável de que o mundo estava prestes a mudar. A brisa entrava suave pela fresta da janela, acariciando as cortinas como mãos invisíveis preparando o cenário para o momento mais importante da minha vida.
Sofia dormia profundamente, o rosto sereno, a pele iluminada pela luz cinza do amanhecer. Seus cabelos caíam em ondas no travesseiro e uma das mãos repousava sobre a barriga, protetora, instintiva, como se já estivesse embalando nossos filhos mesmo antes de conhecê-los. Aquele ventre que por meses foi abrigo agora parecia vibrar com uma urgência silenciosa.
Eu estava ali, encostado na moldura da janela, respirando fundo, tentando conter o turbilhão dentro do peito, quando ouvi.
Um som baixo. Um suspiro diferente. Denso. Sofrido.
Virei num instante.
— Sofi?
Ela abriu os olhos, úmidos, como se despertasse de um sonho intenso. A dor estava ali, no