SOFIA
Eu sempre tive um espaço guardado. Um silêncio bonito, manso, que morava dentro de mim como uma canção sem letra, esperando o momento certo pra ser cantada. Não era ausência. Não era falta. Era amor demais, pedindo um novo destino. E, durante anos, eu mantive esse espaço com carinho — como quem cuida de um quarto à espera de um hóspede que ainda não sabe que vai chegar.
Adotar uma criança nunca foi sobre preencher um vazio. Pelo contrário. Era sobre transbordar. Era sobre oferecer o que a vida me deu de mais bonito: a chance de recomeçar, de amar sem limites, de dizer com gestos o que palavras jamais alcançariam.
A decisão não veio de repente, mas também não pediu licença. Chegou como a primavera: suave, mas impossível de ignorar. Um domingo de céu limpo e riso solto. Estávamos no parque, como tantas vezes antes. Eduardo jogava bola com Enzo e Gael. Luna estava deitada na grama, desenhando nuvens no caderno. E eu... eu observava o mundo como quem espera um sinal sem saber.
Foi q