SOFIA
O relógio marcava nove e trinta da manhã quando Fernanda chegou. A mesma postura gentil, a mesma voz doce, os mesmos passos calmos. Mas agora, tudo nela me causava repulsa. Aquele sorriso que já me acalmou tantas vezes... agora me dava vontade de vomitar.
— Pode entrar, Fernanda — falei, com um tom calmo que me arranhava por dentro. Cada palavra saía como se eu mastigasse cacos de vidro.
Ela atravessou a sala com a mesma bolsinha clara, o coque apertado, o perfume leve que sempre preenchia a casa. Era tudo milimetricamente igual — e por isso ainda mais ameaçador. Eduardo apareceu na porta do escritório, postura rígida, olhar cortante. Um estranho na própria casa, mascarado pela frieza calculada.
— Obrigado por vir. A gente quer conversar, mas antes preciso atender uma ligação. Pode esperar no escritório? Tem café lá — disse ele, com uma voz seca, quase robótica.
Ela assentiu, sem hesitar. Sem desconfiar. Ou talvez fingisse muito bem. E ao cruzar aquela porta, parecia que o ar fo