Mundo ficciónIniciar sesiónIsadora
O táxi para em frente à Mansão Lancaster e meu coração parece que vai saltar pela boca.
A porta se abre e o silêncio me engole.
A casa é enorme, toda vidro e aço, perfeita demais. Tudo parece medido, frio.
Tento respirar devagar, mas não ajuda.
— Senhorita Duarte? — a voz surge de algum lugar do corredor.
Olho e vejo uma mulher parada, impecável, postura perfeita. Olhos firmes, quase militares.
— Sim… sou eu — consigo dizer, a voz menor do que queria.
— Sou Helena Parker. Governanta da casa.
Tento sorrir. Um sorriso pequeno, nervoso.
Ela não muda a expressão. Nada.
— Siga-me. Vamos conversar no escritório.
Sigo atrás dela.
— Aqui é o escritório — diz Helena, abrindo a porta.
O cômodo é escuro, apesar da luz que entra pelas janelas enormes. Mesas, telas, papéis organizados com precisão cirúrgica. Tudo muito sério, muito caro.— Sente-se — ordena, apontando a cadeira à minha frente.
Obedeço.— Vamos começar com algumas perguntas básicas — continua, voz firme, sem qualquer calor.
Helena faz as perguntas de forma direta, sem pressa, sem sorriso.
— Já trabalhou com crianças antes? — Como lidaria com uma birra de quatro anos? — Conseguiria seguir regras rígidas sem questionar?Respondo o melhor que posso, tentando não gaguejar. Cada palavra sai medida, quase ensaiada. Ela escuta, testa, observa cada detalhe.
Quando termina, acena com a cabeça. — Muito bem. Vamos conhecer a casa.Saímos do escritório. Cada corredor parece mais longo que o anterior, cada porta esconde algo que não posso tocar.
Ela me guia, falando sobre a rotina da filha: — Aurora acorda cedo. Café, banho, depois brincadeiras no jardim ou atividades supervisionadas. — Às 12:30, almoço. Às 15h, lanche e descanso. — O toque de recolher é às 22h. Nada de questionar ou contrariar regras relacionadas a ela.Sigo prestando atenção, tentando memorizar tudo sem parecer que estou desesperada. Mas o ritmo dela me deixa sem fôlego.
— Isso é o básico — conclui Helena, olhando para mim como quem espera uma promessa.
Sinto o peso do silêncio depois da fala dela, e sei que cada passo que eu der a partir daqui vai ser vigiado.Subimos as escadas em silêncio. Cada degrau range sob nossos pés e o corredor parece mais longo do que realmente é. — Aqui fica o seu quarto — diz Helena, abrindo uma porta grande e clara.O espaço é enorme. Cama perfeita, lençóis esticados.
Olho em volta, confusa, o coração acelerado. — Eu… vou morar aqui? — arrisco, sem acreditar.Ela me encara, firme, nada no rosto além de neutralidade.
— Sim. A função exige disponibilidade total. Você precisa estar aqui para cuidar de Aurora.Sinto minhas pernas tremerem. Tento rir, mas sai mais um suspiro nervoso.
— Mas… eu não sabia que teria que morar… Eu…Helena cruza os braços, impassível.
— Se não precisa, pode ir. Mas quem entra na casa, fica. Não é negociável.Fico sentada na beira da cama, o desespero crescendo.
É tudo grande demais. Perfeito demais. E eu… pequena demais pra tudo isso.E agora tenho que me adaptar a um mundo inteiro que parece me vigiar a cada passo.
— Entendo — digo finalmente, tentando soar firme. Por dentro, sei que estou perdendo o chão.
Respiro fundo e me levanto da beira da cama, tentando colocar firmeza na voz.
— Não vai ser problema — digo, ainda com o coração disparado. — Eu consigo me adaptar.Helena me observa por um instante, como se avaliando se acredito de verdade no que digo.
Ela acena levemente e então nos dirigimos de volta ao térreo, descendo os corredores silenciosos.Chegamos de frente para a escada principal, aquela que domina toda a entrada da casa.
O ar parece vibrar diferente ali, pesado, cheio de expectativa. Sinto um arrepio percorrer minha espinha quando a sombra de alguém aparece no topo da escada, silenciosa, imóvel.— Acho que temos companhia — murmuro para mim mesma.
E então, os olhos dele me encontram.







