Deixando Tudo para Trás por Eles
Meu marido tinha uma amiga de infância que foi diagnosticada com uma doença terminal. Para poupá-la de partir com arrependimentos e pudesse sentir o verdadeiro amor de uma família, meu marido, Marcelo, deu a ela o meu colar, e deixou que ela ficasse com o meu aniversário. Até o nosso filho passou a chamá-la de mamãe.
— Estrela, a Regina está à beira da morte. Por favor, ceda para ela. — Ele disse.
Sempre que eu tentava pedir para que ele dividisse um pouco mais do seu tempo e atenção comigo, meu filho, Henrique, se adiantava para defendê-lo e também à Regina:
— Mamãe, você sempre me ensinou a ser generoso. A tia Regina está morrendo. Por que você insiste em implicar com ela?
Com o tempo, parei de pedir qualquer coisa. Até que, numa noite, ouvi meu filho, voltando do hospital, dizer para o pai:
— A tia Regina é tão gentil e elegante! Queria que a mamãe fosse como ela.
— Sua mãe é um pouco rigorosa, mas é para o seu bem. — Marcelo sorriu, acariciando os cabelos do filho. — Já que você gosta tanto da tia Regina, que tal ela ser sua madrinha?
Descobri, então, que nem mesmo o filho que gerei com tanto esforço no meu próprio ventre gostava de mim.
Baixei os olhos, fechei a porta do quarto em silêncio, e fingi que nada tinha acontecido.
Se pai e filho detestavam tanto a minha presença e queriam tanto ficar longe de mim, eu iria embora em silêncio, e realizaria o desejo de ambos.