Glauco entrou no carro e seguiu pela orla do Tirreno. Toda a sua vida parecia passar diante de seus olhos, enquanto o vento fresco invadia o interior do veículo pela janela aberta, trazendo o cheiro familiar do mar.
Lembrou-se da infância, do dia em que conheceu Sofia, da noite em que ela forjou a própria morte, do encontro com Laerte no hospital. Estava fora de si, apenas um resquício de lucidez o impediu de estrangulá-lo.
Depois disso, a vida se tornou indiferente, sem graça, apenas trabalho. As pessoas o irritavam, não suportava as mulheres do meio em que vivia. Quantos jantares e festas foi obrigado a comparecer, sendo alvo de olhares e convites disfarçados... com uma ou outra acabava cedendo, encontros rápidos, apenas para satisfazer o corpo. A alma, porém, seguia vazia e fria.
Até que viu aquela garota frágil ser jogada contra o chão, disputada como mercadoria. Não sentiu pena, tampouco desejo, apenas reconheceu ali uma injustiça. Por mais rude que fosse, não seria como aqueles