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Você é minha por trinta dias

Giulia

Fui vendida.

Não como quem troca um objeto em um balcão de loja. Fui vendida como se fosse um prato de luxo — algo raro, caro, feito para ser consumido com pressa ou prazer. O salão ainda ecoava com palmas quando me fizeram sair do palco por uma escada lateral, os saltos machucando meus pés, o vestido colando na pele úmida.

— Anda, ragazza — disse uma das assistentes, puxando meu braço com impaciência.

Aos fundos, ouvi o leiloeiro anunciar a próxima atração, como se a minha dignidade tivesse sido apenas o aquecimento da noite.

Fui levada por um corredor longo, coberto de espelhos e luzes âmbar. Meu reflexo parecia o de uma desconhecida: lábios pintados de vermelho escuro, o cabelo preso com grampos dourados, o vestido brilhando como pele de serpente. Meus olhos, no entanto, me traíam. Eles ainda estavam vivos. Ainda eram meus.

A porta abriu com um estalo.

Ele estava lá.

Sentado em uma poltrona de couro, pernas cruzadas, uma taça na mão, o paletó impecável. Olhos escuros, frios, me fitaram como quem examina uma obra de arte antes de decidir onde pendurá-la.

O ar mudou. Denso. Perigoso.

Meu estômago revirou.

— Senhor Mancini — murmurou a assistente, quase com uma reverência. — A... entrega foi feita.

Ele nem respondeu. Apenas olhou para mim — de cima a baixo — como se cada parte do meu corpo já pertencesse a ele.

A mulher me empurrou levemente para dentro e fechou a porta atrás de mim. O clique da fechadura soou como uma sentença.

— Venha — ele disse. A voz era baixa, grave, com um sotaque siciliano carregado. Uma ordem envolta em veludo.

Permaneci parada.

Eu não conseguia mover as pernas. O medo congelava minhas juntas, mas havia algo mais ali. Algo que queimava, lá no fundo. Uma fúria discreta. Um grito preso.

Ele se levantou. Devagar. Como um predador que não tem pressa.

De perto, era ainda mais intenso. Alto. Postura impecável. Olhos que pareciam ver através da pele. Um homem feito de aço e pecado.

— Você tem nome? — perguntou.

— Giulia — respondi. A voz saiu baixa, mas firme.

Ele assentiu. Um pequeno sorriso — quase imperceptível — curvou a boca dele.

— Giulia. Nome doce para uma mercadoria tão valiosa.

Senti a náusea subir de novo, mas engoli seco.

Ele parou diante de mim, a poucos centímetros de distância. A taça ainda na mão. O cheiro dele era amadeirado, quente, masculino. Tudo nele era ameaça vestida de elegância.

A viagem até a mansão de Salvatore foi silenciosa.

Fui colocada no banco traseiro de um carro preto, com vidros fumê e bancos de couro macio demais. O motorista não olhou para mim uma vez. E Salvatore — no banco da frente, ao lado dele — apenas fitava a estrada, como se eu fosse um item a ser transportado, não uma pessoa.

Do lado de fora, a cidade foi sumindo. As ruas agitadas deram lugar a estradas mais desertas, ladeadas por árvores altas e escuras. Quanto mais longe de Palermo, mais minha garganta apertava. O luxo do carro só tornava tudo mais cruel. Eu estava sendo levada como uma princesa para o castelo… mas ali, eu era só o prêmio.

Quando os portões se abriram, vi.

A mansão Mancini.

Imensa. Fria. Com colunas brancas demais, janelas escuras demais. Parecia um mausoléu rico. Um túmulo para almas vivas. As luzes da entrada se acenderam automaticamente conforme o carro subia pela longa alameda de pedras.

Ao sair, o vento gelado da noite cortou minha pele exposta.

Salvatore já estava à frente, caminhando com passos firmes, como se o chão o reconhecesse. Eu hesitei. Por um segundo, pensei em correr — mas correr para onde? A escuridão lá fora parecia tão sufocante quanto a que me esperava ali dentro.

Giovanni —  seu capanga — me lançou um olhar breve, impassível, e fez um gesto com a cabeça.

Subi os degraus atrás deles. As portas se abriram com um rangido elegante. A entrada era ainda mais opulenta por dentro: mármore que refletia a luz, paredes altas, quadros renascentistas que me observavam com julgamento mudo. Um lugar construído para intimidar.

Salvatore parou no meio do saguão e se virou para mim.

— Você é minha por trinta dias — disse, com a voz baixa e firme.

Sem raiva. Sem desejo. Apenas... fato.

Como quem anuncia um contrato. Como quem assina uma sentença.

— Durante esse período, seguirá minhas regras. Não sairá dos espaços designados. Seu quarto estará trancado à noite. E nada será feito sem minha permissão.

Engoli em seco. O som da minha respiração parecia alto demais.

Ele deu um passo à frente.

— Em troca, terá seu dinheiro.

Frio. Direto. Cruel, sem levantar a voz.

— Alguma pergunta?

Olhei para ele. Quis gritar, cuspir, perguntar como alguém podia viver com tanto controle sem sufocar a si mesmo. Mas só balancei a cabeça. Não confiava na minha voz.

Ele assentiu.

— Giovanni, leve-a para o quarto dela.

Sem dizer mais nada, virou-se e subiu a escadaria imponente, sumindo no alto do corredor como uma sombra sem pressa.

Fui conduzida por corredores longos, iluminados por abajures dourados. Cada porta era mais pesada que a anterior. Tudo exalava riqueza e solidão.

Quando entramos no quarto, percebi que ali nada era casual. Cama enorme. Cortinas grossas. Banheira de mármore. Uma bandeja com frutas. Um armário já preenchido com roupas do meu tamanho.

Eu era esperada. Calculada.

— Ele quer que esteja descansada amanhã — disse Giovanni, antes de sair. — O Don não tolera desobediência.

A porta se fechou com um clique.

E quando me virei, percebi: a maçaneta não tinha tranca pelo lado de dentro.

Caminhei devagar pelo quarto, cada passo soando estranho naquele silêncio pesado. O lugar parecia feito para prender, não para acolher. As paredes, cobertas por tapeçarias grossas, abafavam qualquer som, deixando tudo ainda mais isolado.

Foi quando vi uma porta entreaberta que dava para um closet enorme. O espaço era imenso, mas estava completamente vazio — nenhuma roupa, nenhum sapato, só prateleiras e cabides vazios. Um armário gigante esperando ser preenchido... talvez com as roupas que eu teria que usar.

Um nó apertou minha garganta.

Sem forças para pensar muito, fui para o banheiro. A banheira de mármore parecia prometer um alívio, uma fuga mínima daquele pesadelo.

A água quente escorria pelo meu corpo, mas eu só sentia frio. Um frio que vinha de dentro, corroendo. Me encolhi no canto do box, os joelhos contra o peito, tentando conter o soluço que já ameaçava explodir.

Eu vendi meu corpo.

Mas o dinheiro ainda não era meu.

Só viria depois. Depois de trinta dias com um estranho.

“Mamma não tem trinta dias”, gritou uma voz dentro de mim. Tapei os ouvidos com as mãos molhadas, como se pudesse calar a verdade. Mas ela latejava no meu peito, pulsando junto com o medo.

Saí do banho cambaleando. O roupão branco parecia uma mortalha. Me joguei na cama do quarto que Salvatore deu para mim e chorei. Chorei como uma criança, como uma filha que não sabia mais o que fazer. Eu precisava do dinheiro agora. Precisava salvar minha mãe agora.

Mas tudo o que eu tinha era um corpo virgem e uma assinatura num contrato que me mantinha presa por um mês.

O meu telefone ao lado da cama me tentava. Eu podia ligar para o hospital, pedir para adiarem, implorar. Mas o que eles poderiam fazer? As dívidas estavam lá. A conta da cirurgia esperando. E eu… eu era só uma garota tentando vender sua alma disfarçada de mulher fatal.

Me sentei, engolindo o pânico.

E se… e se eu pedisse um adiantamento?

Talvez no dia seguinte. Quando ele estivesse mais calmo. Quando eu tivesse coragem.

Mas e se… e se fosse tarde demais?

A urgência explodiu em mim como um incêndio. Pulei da cama, ainda de roupão, os pés descalços tocando o chão gelado. Abri a porta do quarto devagar, o coração martelando no peito. O corredor estava silencioso, elegante demais para minha presença trêmula.

Saí. Andei por ele como uma sombra.

A casa era enorme, silenciosa, como se dormisse. Mas eu não conseguia parar. Tentei uma porta, trancada. Outra, uma sala vazia. Um escritório em silêncio.

— Salvatore? — minha voz saiu baixa, quebrada.

Nada.

Procurei mais. Escadas, corredores, mármore frio sob meus pés. O peito ardendo.

— Por favor… — sussurrei para o vazio. Nem sabia o que implorava.

Que ele me ouvisse? Que dissesse sim? Que me livrasse?

Mas ele não estava ali.

Nem um vulto, nem um som.

A mansão parecia engolir meus passos, me lembrando que eu não pertencia àquele lugar. Que eu era só uma peça, uma mercadoria. Algo comprado.

Voltei pelo mesmo corredor, mais rápido agora. A garganta fechada, os olhos ardendo.

Abri a porta do quarto com força, entrei e a fechei de novo como se o mundo lá fora pudesse me alcançar.

Tropecei até a cama, deixei o roupão cair no chão, me encolhi entre os lençóis de mil fios como uma criança com febre.

E então chorei. Chorei tudo que vinha segurando. Chorei pelo que fiz, pelo que ainda teria que fazer, e pelo que podia perder.

— Mamma… me perdoa… — sussurrei contra o travesseiro. A voz mal saía.

As lágrimas se confundiram com o travesseiro, com o cansaço, com o medo.

E, num momento que nem percebi, o corpo cedeu.

Adormeci no choro, sozinha, sufocada pela culpa e pela angústia.

O amanhã viria.

E eu ainda estaria presa ao contrato.

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