Depois de anos dedicando sua vida à medicina e a um casamento que acreditava ser sólido, Adeline Moretti viu tudo desmoronar ao descobrir a traição do marido, Carlos Ricci, diretor do hospital onde trabalha. Ferida e desiludida, ela jurou nunca mais confiar em um homem novamente. Mas o destino tinha outros planos. Quando Adeline conhece Aston Beaumont, um jovem e impetuoso CEO de apenas 25 anos, ela jamais imaginaria que ele se tornaria sua maior tentação. Arrogante, sedutor e dono de uma confiança inabalável, Aston não aceita recusas—e muito menos a ideia de que a diferença de idade entre eles possa ser um obstáculo. O que começa como um jogo perigoso logo se transforma em algo avassalador. Entre encontros intensos e momentos de tirar o fôlego, Aston se torna a única pessoa capaz de fazer Adeline esquecer seu passado doloroso. Mas será que ela está pronta para abrir seu coração novamente?
Ler maisHoje era para ser um dia perfeito, pelo menos na teoria.
Eu estava empolgada, ansiosa e com borboletas no estômago como não sentia desde a minha adolescência e considerando que eu já tinha 35 anos… isso fazia um bom tempo. Mas o fato era que mesmo depois de tanto tempo juntos, eu ainda sentia aquele friozinho na barriga quando pensava em Carlos. Ele tinha me pedido em noivado no final da residência e desde então, tudo tinha sido uma completa correria. Vida de médico não era fácil e eu sempre soube disso, mas… ele era meu futuro, meu chefe (desde que finalmente conseguiu a promoção que queria como staff no Saint Louis), e claro, meu porto seguro.
Ou pelo menos era o que eu pensava.
Com um sorriso bobo nos lábios, caminhei apressada pelos corredores do hospital depois de finalmente ter encerrado o meu plantão, eu estava segurando a sacola com o presente que eu tinha escolhido com tanto carinho para comemorarmos juntos essa noite, o nosso aniversário de noivado. Um relógio de luxo que ele vinha comentando fazia meses. Não era um presente barato, mas eu não me importava, principalmente porque eu ganhava muito bem. E ele merecia. Afinal, ele estava sempre ocupado, sempre sobrecarregado. Eu queria mostrar o quanto o valorizava.
Mas a vida tem uma forma cruel de esfregar a verdade (aquela que nunca queremos enxergar) bem na nossa cara.
A secretária de Carlos que sempre me via e sorria antes de avisá-lo que eu estava entrando, — não estava lá como de costume e isso já deveria ser o suficiente para me afastar, mas… eu vi a luz acesa na sala dele, vi as persianas ainda fechadas, com frestas iluminadas pela luz forte e branca e sem pensar muito, eu ignorei os sinais de alerta. A estranheza.
Quando cheguei à porta do escritório dele, notei que estava entreaberta. Ouvi risadas abafadas. Meu coração acelerou, e uma pontinha de desconfiança se instalou em meu peito.
Eu não queria pensar besteira. Ele não faria isso comigo. Não depois de tudo e eu certamente já não era uma criança para ficar criando teorias mirabolantes na minha mente.
Mas quando empurrei a porta, minha realidade despencou de uma vez só, porque nada do que pensei que poderia ver, poderia ser pior do que aquela m*****a imagem.
Carlos estava ali. Com outra mulher.
Uma das enfermeiras. Semi nua, sentada sobre a mesa, com as pernas ao redor da cintura dele. Os corpos colados. As bocas grudadas e eu conseguia ver da porta, o pau dele entrando nela.
Não era um mal entendido e muito menos, uma situação que se pudesse explicar. Era uma traição, simples e clara.
O chão desapareceu sob meus pés. O ar sumiu dos meus pulmões. Senti um gosto amargo na boca, como se tivesse engolido veneno.
Ele me traiu.
Ele. Me. Traiu.
O barulho do presente caindo no chão os fez se separarem. A enfermeira arregalou os olhos e tentou cobrir o corpo com as próprias mãos. Já Carlos...
Carlos não teve nem a decência de parecer arrependido.
— Que porra é essa, Adeline?! — ele vociferou, ajeitando a calça como se EU tivesse feito algo errado. — Por que não bateu antes de entrar?!
A audácia desse homem! Até onde iria?
Meus olhos arderam, mas eu me recusei a derramar uma lágrima sequer. Eu não daria esse gostinho para ele. Em vez disso, eu me forcei a rir. Um riso amargo, incrédulo, cheio de raiva.
— Ah, desculpa! — ironizei. — Eu não sabia que precisava marcar horário para flagrar meu suposto noivo me traindo no meio do expediente!
— Você está exagerando! — ele rebateu, como se fosse o absurdo da história, — e não me venha com ironias quando invade o escritório do seu chefe.
— Exagerando? — Minha voz saiu afiada. — Carlos, eu te peguei com essa mulher, no SEU ESCRITÓRIO, e a errada sou eu?!
A enfermeira continuava calada, encolhida no canto, como se quisesse desaparecer. Eu não a culpava. No fim das contas, o errado ali era ele.
Carlos cruzou os braços e me olhou com impaciência.
— Olha, Adeline, você já sabia que nosso relacionamento estava desgastado com toda essa correria, eu precisava me aliviar. Isso não é nada demais. São apenas... coisas que acontecem. Então não crie um grande caso com algo tão bobo. — Ele disse com descaso, — todos sabem que homens como eu… cheios de energia, precisam pegar umas novinhas de vez em quando. Ou você acha mesmo que pode dar conta de alguém como eu, quando já está quase com 40 anos?
Eu ri de novo, incrédula com a cara de pau que ele parecia ter. Como diabos eu nunca reparei nisso? Como não notei essa falta de caráter no homem com quem eu pretendia me casar?
— "Coisas que acontecem"? Cheio de energia? É assim que você justifica sua traição? Francamente Carlos…
— Francamente digo eu! — Ele me cortou, — já disse que não é nada demais, porque diabos você insiste nessa droga de assunto? Chega. Se você quiser fazer caso com essa situação, que faça sozinha. Eu tenho pacientes para atender.
Ele praticamente rosnou aquelas palavras em minha direção e sem pensar muito, abotoar sua camisa e colocou o jaleco, pronto para me abandonar ali sozinha, sem um pingo de peso na consciência ou bom senso.
Meu sangue ferveu. Como ele podia ser tão frio, tão descarado? Meu coração estava despedaçado, minha vida inteira virando de cabeça para baixo, e ele agia como se eu fosse apenas um incômodo passageiro?
Eu inspirei fundo. Me acalmei. Eu não ia gritar. Não ia chorar.
Ia acabar com isso de uma vez.
— Quer saber, Carlos? Vai se foder.
Ele arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— Eu estou me demitindo. Agora mesmo. Porque eu não vou passar mais um segundo da minha vida nesse hospital olhando para a sua cara nojenta, enquanto você me faz de palhaça e fode com as enfermeiras pelos cantos.
— Adeline! Você não pode fazer isso! — Ele esbravejou, — não ouse! Você é a porra da minha chefe de cirurgia! Como espera que eu-...
— Isso é um problema seu, — rosnei e sem olhar para trás, saí daquela sala e o larguei falando sozinho.
Eu sabia que ele surtaria, sabia que isso prejudicaria o hospital, mas naquele exato momento, eu não conseguia pensar em absolutamente mais nada. Tudo que me vinha à mente era o fato de que Carlos nunca me mereceu e jamais poderia merecer uma sequer das minhas lágrimas.
O vento frio da noite bateu no meu rosto assim que saí do hospital. Meus passos estavam apressados, meu coração ainda martelando dentro do peito. Eu me sentia traída, humilhada, destruída. E agora… eu também estava desempregada.
Era engraçado como, em questão de minutos, minha vida tinha virado de cabeça para baixo. O que antes era amor, agora era uma ferida aberta, sangrando, pulsando de dor.
Sentei-me no banco da praça em frente ao hospital e passei as mãos pelo rosto. Eu não podia surtar ali. Não podia dar esse gostinho para ninguém. Mas o nó na minha garganta era sufocante.
Meu telefone vibrou dentro da bolsa. Peguei o aparelho e vi o nome de minha melhor amiga, Clara, brilhando na tela.
— Amiga? — ela atendeu na mesma hora. — Você tá bem? O que aconteceu? Richard disse que você saiu praticamente correndo do hospital depois de uma briga com Carlos.
Eu não consegui responder de imediato. Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos.
— Ele me traiu, Clara. — Minha voz saiu rouca, embargada.
O silêncio do outro lado foi cortado por um xingamento.
— Aquele desgraçado! Eu sempre soube que ele não prestava! Onde você está?
— Aqui na frente do hospital. Eu me demiti, Clara. Joguei tudo para o alto.
— Eu estou indo te buscar AGORA. Não sai daí!
Desliguei o telefone e encostei a cabeça no encosto do banco. Eu queria apagar aquele dia. Queria dormir e acordar em uma vida nova, onde Carlos Ricci não existia mais, onde tudo isso não passava de uma brincadeira de mal gosto, de um sonho ruim.
Mas talvez... talvez esse fosse o começo de algo melhor. Eu só não sabia ainda.
Dois anos.Dois anos desde que deixei o hospital Saint Louis com o peito em ruínas, um jaleco dobrado sob o braço e os olhos cegos de decepção. Dois anos desde que vi Carlos Ricci pelo que ele realmente era: um manipulador, um mentiroso, um covarde. Dois anos desde que pensei que jamais voltaria a confiar em alguém... e que jamais permitiria que alguém se aproximasse de novo.Mas hoje, estou diante do espelho de um closet maior do que qualquer apartamento que já morei, vestindo um longo dourado com fenda lateral e decote suave, enquanto meu reflexo sorri de volta como se soubesse todos os segredos do futuro. E o melhor deles está do outro lado da porta, amarrando a gravata com um ar distraído e sexy que só ele tem.Aston Beaumont.— Vai me olhar assim ou vai me ajudar a escolher o brinco? — pergunto, com um sorrisinho de canto, enquanto viro de perfil e ajeito o tecido do vestido sobre o quadril.Ele se aproxima devagar, com aquele andar confiante e preguiçoso que ainda me faz perder
O silêncio dela disse mais do que qualquer palavra.Era um sim. Um grito sem som. Um pedido que eu também queria fazer, mas que ficou preso entre a garganta e o peito. Ela só me olhou... com aquele olhar que queimava. E então veio até mim, passo a passo, como se cruzasse uma ponte que não tinha mais volta.Se sentou no meu colo devagar, as pernas se encaixando ao redor da minha cintura. A respiração dela já batia na minha boca. Tão perto que dava pra sentir o gosto antes mesmo do beijo acontecer. E quando aconteceu… ah, foi como acender um fósforo dentro de um quarto escuro cheio de pólvora.O beijo não foi tímido. Nem leve. Foi cheio. Quente. Faminto.As mãos dela estavam no meu rosto, puxando minha nuca, os dedos se perdendo no meu cabelo. O quadril dela começou a se mover, roçando no meu, lenta e ritmadamente, e mesmo com os pontos e cicatrizes ainda vivos no meu corpo, eu só conseguia pensar nela. Em como ela encaixava. Em como ela queria. Em como me fazia esquecer da dor só de exi
A luz que entrava pela janela do quarto da UTI era suave, dourada. Aquela tonalidade quase celestial do fim de tarde. A claridade invadia o cômodo em feixes retos, cortando o ar com um calor delicado que beijava a pele. O sol tocava minha pele pálida como se quisesse garantir que eu ainda estivesse ali.Vivo.Cada parte do meu corpo parecia distante. Um eco. A dor era controlada por remédios fortes demais para que eu sentisse qualquer coisa além de um incômodo insistente, mas a consciência... essa, estava nítida. E ela gritava o nome dela.Adeline.Abri os olhos devagar, como se o mundo fosse um filme pausado e alguém tivesse finalmente apertado o play. A primeira coisa que vi foi o teto. Branco, impecável. E em seguida, o vulto que se movia ao meu lado. Suave, doce, ansioso.— Aston? — a voz dela. Baixa. Quase trêmula.Virei o rosto com esforço. E ali estava ela. Cabelos bagunçados, rosto ainda marcado pelos últimos dias, mas linda. Tão linda. Os olhos marejados segurando as lágrimas
O interior da ambulância parecia mais estreito do que qualquer sala de cirurgia em que eu já havia pisado. E olha que eu era médica. Acostumada a sangue, fraturas, órgãos expostos. Mas nada — absolutamente nada — tinha me preparado para o que era estar ali dentro, deitada numa maca, com o braço enfaixado, o corpo coberto de hematomas e o coração... despedaçado.O giroflex pintava o mundo do lado de fora em tons intermitentes de azul e vermelho. Um ritmo frenético que parecia zombar da dor silenciosa que me consumia por dentro. Eu sentia cada solavanco da estrada atravessar meu corpo como uma facada. Mas, ainda assim, não conseguia parar de pensar em outra maca. Na maca do lado. Na que levava Aston.Ele estava desacordado.O rosto pálido. O peito coberto por um lençol branco que já não conseguia esconder o sangue que escapava da bandagem abdominal. Uma máscara de oxigênio cobria sua boca e nariz. A única coisa que me mantinha respirando era o bip contínuo do monitor cardíaco. Bip. Bip.
O mundo havia se partido em mil pedaços.Eu estava no chão. Joelhos ralados, palmas das mãos úmidas do frio do piso, a visão embaralhada pelas lágrimas que não paravam de cair. A minha bolsa havia voado longe, meu celular estava destruído, e o único som que preenchia meus ouvidos era o eco da dor. O caos ao meu redor parecia distante. Como se eu estivesse assistindo tudo por uma película embaçada.Carlos. Ele tinha gritado comigo. Me empurrado. Me chamado de inútil. Disse que nunca me amou.E eu... eu amava ele. Acreditei nele. Contra todos. Contra meu pai. Contra Adeline. Contra o mundo inteiro.E agora ele estava ali. Apontando uma arma. Batendo. Gritando. Virando o homem que eu mais temia. Que todos me alertaram que ele era. Mas que eu nunca quis ver.Vi Adeline caída no chão, os cabelos espalhados pelo mármore do aeroporto, os olhos ainda vivos, mesmo entre sangue e machucados. Carlos chutava ela, como se fosse lixo. Como se ela não valesse nada.E então eu percebi:Ele nunca fari
O sangue.Era tudo o que eu conseguia ver.O vermelho quente escorrendo pela camisa de Aston, manchando o tecido branco com um contraste violento, grotesco. O som abafado da multidão gritando, dos alarmes disparando, das rodas das malas sendo abandonadas às pressas... tudo parecia vir debaixo d’água. Distante. Irreal.Eu sou médica. Cardiologista. Treinada para lidar com o inesperado, com emergências. Eu sei como conter hemorragias, como manter um paciente estável até a chegada da equipe de trauma. Eu sei o protocolo. Sei o que fazer.Mas naquele momento...Deu branco.As minhas mãos tremiam tanto que mal conseguiam alcançar o bolso onde costumo carregar um elástico de cabelo. Minhas pernas ameaçavam falhar, e eu fiquei ajoelhada ao lado dele, encarando aquele corpo tão familiar e agora tão vulnerável. Os olhos de Aston tentavam focar em mim, mesmo com a pele empalidecendo rápido demais.— Aston... — minha voz saiu num sussurro fraco, como se não quisesse atrapalhar o silêncio solene
Último capítulo