O interior da ambulância parecia mais estreito do que qualquer sala de cirurgia em que eu já havia pisado. E olha que eu era médica. Acostumada a sangue, fraturas, órgãos expostos. Mas nada — absolutamente nada — tinha me preparado para o que era estar ali dentro, deitada numa maca, com o braço enfaixado, o corpo coberto de hematomas e o coração... despedaçado.
O giroflex pintava o mundo do lado de fora em tons intermitentes de azul e vermelho. Um ritmo frenético que parecia zombar da dor silenciosa que me consumia por dentro. Eu sentia cada solavanco da estrada atravessar meu corpo como uma facada. Mas, ainda assim, não conseguia parar de pensar em outra maca. Na maca do lado. Na que levava Aston.
Ele estava desacordado.
O rosto pálido. O peito coberto por um lençol branco que já não conseguia esconder o sangue que escapava da bandagem abdominal. Uma máscara de oxigênio cobria sua boca e nariz. A única coisa que me mantinha respirando era o bip contínuo do monitor cardíaco. Bip. Bip.