O sol já estava alto quando acordei, e um calor seco parecia ter se instalado no ar como um visitante insistente. Não era fácil dormir naquela cama improvisada, mas a sensação de estar viva, de ainda poder respirar, fazia cada instante valer a pena.
Abri o caderno na primeira página em branco e deixei os dedos deslizarem sobre o papel. Queria escrever algo que não soasse desesperado ou triste. Queria uma frase que fosse um lembrete — para mim mesma, primeiro — de que havia algo além da ruína.
Escrevi:
“Toda tempestade destrói, mas também revela. Revela o que a gente é quando sobra pouco.”
Guardei o caderno na mochila e fui até o galpão. June já estava lá, distribuindo as tarefas com seu jeito pragmático, mas gentil.
“Pronta para mais um dia de destralhar o caos?” ela perguntou, sorrindo.
“Pronta,” respondi, mesmo sabendo que o caos nunca acabaria de verdade.
Nos dias anteriores, eu tinha percebido que o trabalho físico ajudava a acalmar a mente. Carregar caixas, separar doações, lavar