Acordei com a luz suave atravessando as cortinas. Por um instante, pensei que ainda fosse o dia do festival, que ainda haveria bancas no pátio, crianças correndo, música no rádio antigo. Mas a casa estava em silêncio, e o cheiro de pão fresco tinha sido substituído pelo aroma de madeira que já começava a perder o verniz.
Sentei na beira da cama, passando os olhos por cada detalhe: o tapete colorido que Gracie me dera, a estante feita de caixotes que Deborah ajudara a instalar, as flores já um pouco murchas na janelinha da cozinha. Aquilo era meu. Tudo. Até o silêncio.
Levantei devagar e fui até a porta. Quando abri, vi June parada no pátio, com um balde de tinta numa mão e uma expressão satisfeita.
— O que você tá aprontando? — perguntei, bocejando.
— Pintando minha porta — disse ela, erguendo o balde. — Decidi que branco era sem graça.
— E que cor escolheu?
— Verde-água — respondeu, séria. — Porque combina comigo.
— E combina mesmo — falei.
Ela sorriu e encostou o balde no chão.
— E