Após um grave acidente de carro, Angélica Montenegro acorda sem lembranças de quem é — nem do passado que deixou para trás. Nos corredores frios do hospital, ela encontra calor nos olhos verdes do Dr. Willian Santander, um médico tão bonito quanto enigmático… e que parece conhecê-la melhor do que ela mesma. Entre exames e silêncios, nasce um sentimento proibido, arrebatador. Mas Willian guarda um segredo: Angélica era a melhor amiga de sua irmã… e o grande amor da juventude dele. O problema? Agora ele está prestes a se casar com outra mulher. Enquanto Angélica se entrega a uma paixão que parece nova, mas é antiga, fantasmas do passado ressurgem — inclusive Gabriel, um homem obsessivo que fará de tudo para tê-la. Em um jogo de memórias perdidas, verdades escondidas e desejos incontroláveis, ela precisará redescobrir quem é… e por quem vale a pena lutar. Porque às vezes, o coração se lembra daquilo que a mente esqueceu.
Ler maisA primeira luz da manhã vazou pelas frestas da cortina, pousando suavemente sobre o rosto de Angélica. Seus olhos permaneceram fechados, mas um leve sorriso denunciava que, pela primeira vez em dias, ela havia dormido em paz. O corpo aquecido ao lado do de Willian, a respiração sincronizada, e o coração desacelerado pareciam sinalizar que, ainda que tudo estivesse confuso, algo dentro dela se sentia em casa. Willian já estava acordado, observando-a em silêncio. Havia algo sagrado naquele momento. Os fios dourados do cabelo dela espalhados pelo travesseiro, os lábios levemente entreabertos, o jeito como seu corpo se encaixava no dele... Era como se tudo ao redor tivesse deixado de existir. Sentia vontade de tocá-la, beijá-la, confessar tudo. Mas não podia. Ainda não. Ela se mexeu suavemente e, ao abrir os olhos, encontrou os dele. — Está me olhando há muito tempo? — perguntou com voz rouca e sonolenta. — Há tempo suficiente para confirmar o que já sabia: você é linda. Ela corou e
A campainha tocou às 23h14. Angélica desceu as escadas como se os degraus fossem invisíveis. Cada batida do coração soava mais alto que a chuva que começava a cair lá fora. Ao abrir a porta, encontrou Willian. Encharcado. O cabelo colado à testa, a camisa branca grudada ao corpo, os olhos fixos nela com uma intensidade que a fez estremecer. — Você veio. Ele não respondeu. Apenas entrou, e ela fechou a porta atrás de si. Por alguns segundos, ficaram em silêncio, apenas se olhando. A sala estava mergulhada em penumbra, iluminada por uma única luminária ao canto. A respiração de ambos era pesada. Ele andou até ela, devagar, como se cada passo fosse uma escolha difícil. — Por que fez aquilo? — ele perguntou, a voz baixa e carregada. — Eu... precisava sentir algo. Qualquer coisa. Você sumiu, Willian. Não me ligou. Não apareceu. Me deixou sozinha — a voz dela falhou. — Eu fui covarde — ele admitiu. — E egoísta. Ela respirou fundo, a voz trêmula: — Dói não lembrar de mim. Mas dói a
A manhã chegou com um céu limpo e azul, contrastando com o turbilhão que dominava o peito de Angélica. Havia se passado dois dias desde que Willian saíra de sua casa, deixando para trás um silêncio que pesava mais do que qualquer lembrança perdida. Ele não ligara, não aparecera. Era como se o momento entre eles nunca tivesse existido. Mas ela se lembrava — da sensação, do calor, do quase. Sentada na varanda, com uma xícara de chá nas mãos, Angélica tentava se distrair com um livro antigo encontrado no quarto. Mas nem as palavras impressas conseguiam vencer o eco da ausência. Seu coração batia em compasso quebrado desde o beijo interrompido. Marta apareceu à porta. — Recebi uma ligação da senhora Júlia, sua amiga de infância. Ela quer te levar para sair hoje à noite, com mais duas amigas. Disse que pode te ajudar a se distrair. Angélica hesitou. — Eu não me lembro delas. — Mas talvez seja bom. Sair um pouco, rir, sentir que a vida continua. Ela assentiu devagar. Talvez fosse is
A chuva começava a cair fina sobre a cidade quando Willian estacionou o carro em frente à casa de Angélica. As luzes estavam acesas, mas a fachada permanecia envolta por um silêncio melancólico. Ele respirou fundo antes de sair do carro. O coração pesava. Diana o havia chamado duas vezes naquela noite, mas ele ignorou. Pela primeira vez, não sabia o que dizer à mulher com quem deveria se casar. Angélica precisava dele. E isso era tudo o que importava agora. Marta abriu a porta. — A senhorita está no quarto, recusou o jantar. Disse que só queria vê-lo. Willian assentiu, agradecendo com um olhar. Subiu as escadas devagar, como se cada degrau o puxasse para mais fundo em um oceano de emoções conflituosas. Ao abrir a porta do quarto, encontrou Angélica sentada no chão, de camisola branca, os cabelos soltos, úmidos do banho. Ela estava abraçada às pernas, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Quando o viu, sua expressão se transformou. Havia alívio, dor, e algo mais. Algo que
O som dos pneus contra o asfalto molhado anunciava a chegada. O carro desacelerou diante de uma casa elegante, de fachada clara, com um pequeno jardim bem cuidado. Era o endereço registrado como sendo o lar de Angélica Montenegro. Mas para ela, era só uma construção desconhecida, envolta por um vazio inquietante. Willian saiu do carro e abriu a porta para ela. Seus olhos verdes encontraram os dela, como vinham fazendo há dias — e em cada troca de olhares, algo crescia entre os dois. — Pronta para voltar para casa? Angélica olhou a casa por longos segundos. Algo em seu peito apertou. Um tipo de dor estranha, como se estivesse prestes a ser arrancada de onde queria realmente estar. — Acho que sim... Ele a ajudou a descer. Uma enfermeira enviada pela clínica já aguardava na porta, junto com uma senhora de expressão rígida que se apresentou como Marta, empregada de longa data. — Bem-vinda de volta, senhorita Angélica — disse ela, forçando um sorriso. A casa era silenciosa
O quarto hospitalar estava silencioso, exceto pelo suave bip do monitor cardíaco. Angélica observava o teto branco, tentando encontrar sentido nas lembranças fragmentadas que surgiam em sua mente. Cada imagem era como um quebra-cabeça incompleto, deixando-a frustrada e ansiosa. A porta se abriu suavemente, revelando Willian com um sorriso gentil. Ele hoje carregava uma bandeja com o café da manhã. — Bom dia, Angélica. Trouxe algo para você comer. Ela tentou sorrir, mas a confusão em sua mente era avassaladora. — Obrigada, doutor... Willian. Ele colocou a bandeja sobre a mesa ao lado da cama e se sentou na cadeira próxima. — Como está se sentindo hoje? — Confusa. Algumas imagens vêm à minha mente, mas não consigo conectá-las. É como se eu estivesse tentando lembrar de um sonho que desaparece ao acordar. Willian assentiu, compreendendo a frustração dela. — Isso é normal após um trauma como o que você sofreu. Com o tempo, as memórias podem retornar. Ela olhou para e
l Angélica Montenegro abriu os olhos lentamente. A claridade suave da manhã entrava pelas cortinas brancas do quarto desconhecido. Ela piscou algumas vezes, tentando se localizar, mas nada parecia familiar. Nem o quarto. Nem o cheiro. Nem ela mesma. — Está acordada... — disse uma voz masculina, calma e firme. Ela virou o rosto em direção à voz. Um homem loiro, de olhos verdes tão profundos quanto o mar, se aproximava da cama com um leve sorriso. Vestia um jaleco branco, mas sua presença era mais quente do que qualquer coisa ao redor. — Quem... quem é você? — ela perguntou, com a voz fraca e o olhar confuso. Ele hesitou por um momento, como se aquela pergunta doesse mais do que deveria. Mas logo respondeu: — Sou o Dr. Willian Santander. Sou seu médico, Angélica. Ela franziu o cenho. O nome soava estranho, como se fosse de outra pessoa. Nada vinha à mente. Nenhuma imagem. Nenhum som. Só um vazio. — Não lembro de nada... nem de mim, nem de você — murmurou, com os olhos ma