Após um grave acidente de carro, Angélica Montenegro acorda sem lembranças de quem é — nem do passado que deixou para trás. Nos corredores frios do hospital, ela encontra calor nos olhos verdes do Dr. Willian Santander, um médico tão bonito quanto enigmático… e que parece conhecê-la melhor do que ela mesma. Entre exames e silêncios, nasce um sentimento proibido, arrebatador. Mas Willian guarda um segredo: Angélica era a melhor amiga de sua irmã… e o grande amor da juventude dele. O problema? Agora ele está prestes a se casar com outra mulher. Enquanto Angélica se entrega a uma paixão que parece nova, mas é antiga, fantasmas do passado ressurgem — inclusive Gabriel, um homem obsessivo que fará de tudo para tê-la. Em um jogo de memórias perdidas, verdades escondidas e desejos incontroláveis, ela precisará redescobrir quem é… e por quem vale a pena lutar. Porque às vezes, o coração se lembra daquilo que a mente esqueceu.
Leer másl
Angélica Montenegro abriu os olhos lentamente. A claridade suave da manhã entrava pelas cortinas brancas do quarto desconhecido. Ela piscou algumas vezes, tentando se localizar, mas nada parecia familiar. Nem o quarto. Nem o cheiro. Nem ela mesma. — Está acordada... — disse uma voz masculina, calma e firme. Ela virou o rosto em direção à voz. Um homem loiro, de olhos verdes tão profundos quanto o mar, se aproximava da cama com um leve sorriso. Vestia um jaleco branco, mas sua presença era mais quente do que qualquer coisa ao redor. — Quem... quem é você? — ela perguntou, com a voz fraca e o olhar confuso. Ele hesitou por um momento, como se aquela pergunta doesse mais do que deveria. Mas logo respondeu: — Sou o Dr. Willian Santander. Sou seu médico, Angélica. Ela franziu o cenho. O nome soava estranho, como se fosse de outra pessoa. Nada vinha à mente. Nenhuma imagem. Nenhum som. Só um vazio. — Não lembro de nada... nem de mim, nem de você — murmurou, com os olhos marejados. Willian sentou-se ao lado da cama, segurando sua mão com delicadeza. — Está tudo bem. Você sofreu um acidente, mas está viva. Vai se recuperar. Eu estou aqui com você. Angélica olhou para ele, tentando encontrar alguma lembrança naquele rosto tão sereno. Não encontrou nada... mas sentiu algo. Algo inexplicável. Um calor no peito. Uma segurança que ela não sabia de onde vinha. E, naquele instante, sem saber quem era, onde estava, ou o que o futuro reservava... ela começou a se apaixonar. ....... O silêncio do quarto era quebrado apenas pelo som do monitor cardíaco que marcava o compasso da vida de Angélica. Ela permanecia deitada, os olhos fixos no teto branco, onde a luz difusa refletia as dúvidas que agora habitavam sua mente. A presença do Dr. Willian Santander, tão firme e gentil, era a única âncora naquele mar de incertezas. Willian entrou novamente no quarto com uma prancheta na mão e um olhar cuidadoso. Os cabelos loiros um pouco bagunçados denunciavam as horas sem descanso, e seus olhos verdes, mesmo cansados, brilhavam ao olhar para ela. — Dormiu bem? — perguntou suavemente. Angélica assentiu com um leve movimento de cabeça. — Melhor do que esperava… apesar de tudo. Ele puxou a cadeira e se sentou ao lado da cama, apoiando os cotovelos nos joelhos, como quem procurava as palavras certas. — Preciso te contar algumas coisas — começou ele, com um tom mais sério. — Você sofreu um acidente de carro. Foi algo grave, Angélica. Quando chegou aqui, estava inconsciente, com múltiplas fraturas e um traumatismo craniano. Foram dias incertos… Ela arregalou os olhos, tentando absorver a informação. Levou a mão à cabeça, como se pudesse encontrar ali a memória perdida. — E... por que não lembro de nada? — sussurrou. — O trauma afetou sua memória recente e parte das memórias de longo prazo. É uma amnésia temporária, pelo menos é o que esperamos. Com o tempo, com estímulos... talvez elas voltem — respondeu, olhando-a com ternura. — E nós dois... nos conhecíamos antes disso? Willian respirou fundo. Aquela pergunta carregava um peso que ele ainda não sabia como lidar. — Sim. Você era… amiga da minha irmã, Camila. — Ele sorriu com a lembrança. — Costumava ir lá em casa quando éramos adolescentes. Sempre fui o irmão mais velho chato, lembra? Você me chamava de “doutor certinho”, antes mesmo de eu entrar na faculdade de medicina. Angélica sorriu sem saber exatamente por quê. Era como ouvir uma história de alguém que não era ela, mas que, de alguma forma, mexia com o coração. — E depois disso? Willian desviou o olhar por um instante, mexendo na aliança de prata em seu dedo. — Depois disso... você foi estudar fora por um tempo. Perdemos contato. E… bem… não posso deixar de ser honesto contigo, Angélica. Eu estou… estou comprometido. Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa com a mudança de tom na voz dele. — Comprometido? — Vou me casar com Diana, em dois meses. A notícia caiu como um balde de água fria. Angélica não entendeu o motivo do incômodo. Afinal, ela mal sabia quem era. Mas o sentimento estava lá, claro como o dia. Um aperto no peito, como se algo tivesse se partido — mesmo sem nunca ter existido de verdade. — Ah... entendo — respondeu, tentando disfarçar a decepção. Willian notou. Por mais que tentasse manter a distância profissional, não podia ignorar o que sentia. Ela era a mesma Angélica de antes, mas ao mesmo tempo… não era. Havia algo novo nela, uma doçura frágil, uma vulnerabilidade que despertava nele um desejo de proteger, de cuidar, de estar perto. — Eu vou cuidar de você, Angélica. Com toda a dedicação. Mas… também preciso ser justo com Diana. — Ele fez uma pausa. — Estou dividido, e isso não é certo com nenhuma das duas. Ela o observou em silêncio. Sentia-se estranhamente ligada a ele, como se o conhecesse há anos. Mas ao mesmo tempo, sabia que estava presa em uma realidade que não compreendia. — Talvez eu recupere a memória… e tudo isso faça sentido um dia — murmurou. — Talvez — disse ele, ficando de pé. — Mas até lá, o que você precisar, estarei aqui. Willian se afastou lentamente, e ao sair do quarto, encostou-se na parede do corredor. Suspirou fundo. O coração batia rápido, como se ele estivesse voltando no tempo — para aquela adolescência onde Angélica, com seus olhos verdes e risada espontânea, já mexia com ele de uma forma que nunca admitira. Dentro do quarto, Angélica fechou os olhos. Não lembrava do passado, mas alguma coisa lhe dizia que aquele homem… tinha sido muito mais do que o irmão da amiga.após a ligação para Angelica, Willian e Diana se prepararam para partir rumo à fazenda que Diana alugou, por sinal ao pé do lago, isolada onde passariam a lua de mel, Angélica enfrentava o vazio da casa que diziam ser sua. Nada lhe parecia familiar, nada aquecia seu coração. As paredes ecoavam silêncio, e o cheiro dos lençóis não a abraçava. Ligou a televisão apenas para ter algum som ao seu redor. Até que mudou de canal... e viu a transmissão do casamento. Reconheceu Willian. A mulher ao lado dele estava linda, mas seu coração estremeceu.Ela não sabia por que aquilo doía tanto.Na fazenda, Diana se mostrava mais intensa do que nunca. Queria compensar o tempo perdido com paixão. Empurrou Willian contra a parede do quarto, rasgando a camisa branca dele e cobrindo-o de beijos famintos. Ele tentou corresponder, mas cada toque só aumentava sua culpa. Apesar disso, entregou-se — por desespero, por raiva, ou por tentar esquecer.Angélica, inquieta, decidiu caminhar até o lago nos fundos d
A manhã chegou com o peso de uma sentença. O céu, que durante toda a semana exibira tons dourados e ensolarados, amanheceu nublado, como se até o universo lamentasse o que estava prestes a acontecer. Willian vestia-se lentamente no apartamento de seus pais. O paletó cinza-escuro repousava sobre a cama ainda desfeita, e sua gravata permanecia esquecida em cima da cômoda. Estava no espelho, mas não se via. O reflexo o encarava com olhos distantes, opacos, vazios. Diana, por outro lado, rodopiava animada na casa da madrinha. O vestido branco rendado, de alças finas, moldava-se ao seu corpo magro. Seus cabelos estavam presos em um coque baixo, e seus olhos tinham brilho. Mas não era felicidade — era posse. Um olhar ansioso, desconfiado, vigiando cada segundo para garantir que tudo saísse como planejado. Ela sabia que Willian não a amava da forma que ele dizia. Mas bastava que ele dissesse “sim” em voz alta. Bastava oficializar. O casamento seria apenas no civil, com uma recepção peque
O silêncio era quase sufocante naquela manhã de domingo. Willian se despiu da camisa branca ainda amarrotada pela noite mal dormida, deixando-se afundar no sofá da sala. As lembranças da noite passada invadiam sua mente como uma tempestade que não dava trégua. O gosto da pele de Angélica, os gemidos sussurrados ao pé do ouvido, os olhos verdes dela cravados nos seus... Tudo o perseguia de maneira insana. Mas, ao mesmo tempo, uma sombra chamada Diana pairava sobre ele como um lembrete cruel de quem ele deveria ser. — Willian, precisamos conversar — a voz de Diana quebrou seus pensamentos como um raio cortando o céu nublado. Ele respirou fundo. Sabia que esse momento chegaria mais cedo ou mais tarde. — Estou ouvindo, Diana — respondeu, tentando manter a calma no tom de voz. Ela caminhou até ele com passos decididos, jogando sobre a mesa uma revista de noivas aberta na página onde marcara a data perfeita para o casamento deles. — Chega de adiarmos, Willian. Eu quero que marquemos a
O clima estava tenso. O ar, carregado de promessas não ditas, parecia envolvê-los como uma névoa que impedia qualquer um dos dois de escapar. Angélica olhou para Willian com os olhos brilhando, a respiração ofegante. Ela estava ali, diante dele, mais perto do que nunca, e o desejo entre eles já não podia ser mais ignorado. O desejo crescia em sua pele, os sentidos à flor da pele, e ao mesmo tempo, havia uma sensação de medo. Medo de se entregar, medo de se perder mais uma vez, de ir além do que já tinha ido. Mas naquele momento, ela sentia que, por mais que fosse assustador, a única coisa que ela queria era estar com ele. Willian não conseguiu mais resistir. A tensão entre eles estava insustentável. Ele se aproximou lentamente, como se fosse uma dança silenciosa, e tocou a pele dela com a ponta dos dedos. O contato foi suave, mas suficiente para fazer o coração de Angélica bater mais forte. Ela fechou os olhos, se permitindo ser tomada pela sensação. Ela sentiu a mão dele em seu ros
A primeira luz da manhã vazou pelas frestas da cortina, pousando suavemente sobre o rosto de Angélica. Seus olhos permaneceram fechados, mas um leve sorriso denunciava que, pela primeira vez em dias, ela havia dormido em paz. O corpo aquecido ao lado do de Willian, a respiração sincronizada, e o coração desacelerado pareciam sinalizar que, ainda que tudo estivesse confuso, algo dentro dela se sentia em casa. Willian já estava acordado, observando-a em silêncio. Havia algo sagrado naquele momento. Os fios dourados do cabelo dela espalhados pelo travesseiro, os lábios levemente entreabertos, o jeito como seu corpo se encaixava no dele... Era como se tudo ao redor tivesse deixado de existir. Sentia vontade de tocá-la, beijá-la, confessar tudo. Mas não podia. Ainda não. Ela se mexeu suavemente e, ao abrir os olhos, encontrou os dele. — Está me olhando há muito tempo? — perguntou com voz rouca e sonolenta. — Há tempo suficiente para confirmar o que já sabia: você é linda. Ela corou e
A campainha tocou às 23h14. Angélica desceu as escadas como se os degraus fossem invisíveis. Cada batida do coração soava mais alto que a chuva que começava a cair lá fora. Ao abrir a porta, encontrou Willian. Encharcado. O cabelo colado à testa, a camisa branca grudada ao corpo, os olhos fixos nela com uma intensidade que a fez estremecer. — Você veio. Ele não respondeu. Apenas entrou, e ela fechou a porta atrás de si. Por alguns segundos, ficaram em silêncio, apenas se olhando. A sala estava mergulhada em penumbra, iluminada por uma única luminária ao canto. A respiração de ambos era pesada. Ele andou até ela, devagar, como se cada passo fosse uma escolha difícil. — Por que fez aquilo? — ele perguntou, a voz baixa e carregada. — Eu... precisava sentir algo. Qualquer coisa. Você sumiu, Willian. Não me ligou. Não apareceu. Me deixou sozinha — a voz dela falhou. — Eu fui covarde — ele admitiu. — E egoísta. Ela respirou fundo, a voz trêmula: — Dói não lembrar de mim. Mas dói a
Último capítulo