2. Ecos do passado
O quarto hospitalar estava silencioso, exceto pelo suave bip do monitor cardíaco. Angélica observava o teto branco, tentando encontrar sentido nas lembranças fragmentadas que surgiam em sua mente. Cada imagem era como um quebra-cabeça incompleto, deixando-a frustrada e ansiosa.
A porta se abriu suavemente, revelando Willian com um sorriso gentil. Ele hoje carregava uma bandeja com o café da manhã.
— Bom dia, Angélica. Trouxe algo para você comer.
Ela tentou sorrir, mas a confusão em sua mente era avassaladora.
— Obrigada, doutor... Willian.
Ele colocou a bandeja sobre a mesa ao lado da cama e se sentou na cadeira próxima.
— Como está se sentindo hoje?
— Confusa. Algumas imagens vêm à minha mente, mas não consigo conectá-las. É como se eu estivesse tentando lembrar de um sonho que desaparece ao acordar.
Willian assentiu, compreendendo a frustração dela.
— Isso é normal após um trauma como o que você sofreu. Com o tempo, as memórias podem retornar.
Ela olhou para ele, tentando encontrar familiaridade em seu rosto.
— Você disse que me conhecia antes do acidente?
— Sim. Você era amiga da minha irmã, Camila. Frequentava nossa casa quando éramos adolescentes.
Angélica franziu a testa, tentando puxar alguma lembrança.
— Camila... Isso soa familiar, mas não consigo visualizar seu rosto.
Willian sorriu, tentando confortá-la.
— Não se preocupe. Com o tempo, tudo voltará ao seu lugar.
Ela olhou para ele, seus olhos verdes encontrando os dele.
— E nós? Éramos próximos?
Willian hesitou por um momento antes de responder.
— Éramos cordiais. Você era uma presença constante em nossa casa, mas não tínhamos um relacionamento próximo.
Angélica assentiu lentamente, absorvendo a informação.
— E agora? Como está sua vida?
Willian desviou o olhar por um momento antes de responder.
— Estou noivo. Vou me casar com Diana em breve.
Ela sentiu uma pontada no peito, embora não soubesse o motivo.
— Parabéns. Deve ser emocionante.
Willian sorriu, mas havia uma sombra em seus olhos.
— Sim, é. Diana é uma mulher incrível.
O silêncio pairou entre eles por um momento antes de Angélica falar novamente.
— Obrigada por cuidar de mim, Willian. Sei que não é fácil.
Ele pegou a mão dela, apertando-a suavemente.
— É um prazer, Angélica. Estou aqui para ajudá-la a se recuperar.
Ela sorriu, sentindo-se confortada por sua presença.
— Com você ao meu lado, sinto que posso enfrentar qualquer coisa.
Willian olhou para ela, seus olhos cheios de emoção.
um dia depois...
O sol da tarde filtrava-se pelas persianas do quarto hospitalar, lançando listras douradas sobre o rosto sereno de Angélica. Ela estava sentada na cama, folheando um álbum de fotos que Willian trouxera, na esperança de reacender suas memórias. As imagens mostravam momentos felizes: festas, viagens, encontros com amigos. Em muitas delas, Angélica aparecia ao lado de uma jovem de sorriso contagiante.
— Essa é a Camila, sua irmã? — perguntou Angélica, apontando para uma das fotos.
Willian assentiu, sentando-se ao lado dela.
— Sim, vocês eram inseparáveis. Passavam horas conversando, rindo... Era bonito de ver.
Angélica sorriu, mas havia uma sombra de tristeza em seus olhos.
— Eu queria lembrar. Queria sentir essa conexão novamente.
Willian colocou a mão sobre a dela, apertando-a suavemente.
— Vai acontecer. Com o tempo, as memórias voltarão.
Ela olhou para ele, seus olhos verdes encontrando os dele. Havia uma intensidade naquele olhar que fazia o coração de Willian acelerar. Ele sabia que estava cruzando uma linha perigosa, mas não conseguia se afastar.
Antes que pudesse dizer algo, a porta do quarto se abriu, revelando uma mulher elegante, de cabelos castanhos e olhos penetrantes. Ela entrou com um sorriso, mas seus olhos rapidamente captaram a cena diante dela.
— Willian, querido, estou interrompendo?
Willian levantou-se rapidamente, soltando a mão de Angélica.
— Diana! Não, claro que não. Esta é Angélica, minha paciente. Angélica, esta é Diana, minha noiva.
Angélica sorriu, estendendo a mão.
— Prazer em conhecê-la.
Diana apertou a mão dela, mas havia uma tensão palpável no ar.
— O prazer é meu. Willian tem falado muito sobre você.
Angélica olhou para Willian, surpresa.
— É mesmo?
Willian pigarreou, tentando disfarçar o desconforto.
— Apenas mencionei que você está se recuperando bem.
Diana caminhou até a janela, olhando para fora.
— É admirável o quanto você se dedica aos seus pacientes, Willian. Às vezes, até demais.
Havia uma nota de sarcasmo em sua voz que não passou despercebida.
Angélica sentiu-se desconfortável, como se estivesse no meio de algo que não compreendia completamente.
— Acho que vou descansar um pouco — disse ela, fechando o álbum de fotos.
Willian assentiu, percebendo a tensão no ambiente.
— Claro. Se precisar de algo, estarei por perto.
Diana e Willian saíram do quarto, e assim que a porta se fechou, Diana virou-se para ele.
— Você está se envolvendo demais com essa paciente, Willian.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Ela precisa de apoio. Está sozinha, sem memória... É natural que eu queira ajudá-la.
Diana cruzou os braços, encarando-o.
— Ajudá-la é uma coisa. Passar horas com ela, trazer álbuns de fotos, segurar a mão dela... Isso é outra coisa.
Willian olhou para ela, tentando encontrar as palavras certas.
— Eu me importo com ela. Mas isso não muda o que sinto por você.
Diana o observou por um momento, seus olhos suavizando-se.
— Espero que não mude mesmo. Porque eu não estou disposta a competir pelo seu coração.
Ela virou-se e caminhou pelo corredor, deixando Willian sozinho, imerso em seus pensamentos e sentimentos conflitantes.