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Capítulo Dois- A maldição tem nome

Eu ainda segurava a xícara entre os dedos quando senti o vento mudar.

Mirena não se virou, mas seus olhos se ergueram da fumaça do chá.

— Ele chegou.

Não perguntei “quem”. Ela já havia me ensinado que há perguntas que fazem o mundo repetir o que a alma já sabe.

Levantei-me devagar, deixando a xícara ainda quente sobre a mesa. Lá fora, o som dos cascos cortava a terra com precisão. Não era alguém comum — nem no modo de chegar, nem no motivo que o trazia.

Abri a porta.

E vi.

Ele estava ali. Alto. Postura ereta. Vestes elegantes, mas nada suaves — havia peso nas ombreiras, rigidez no corte. O azul-escuro da capa contrastava com os detalhes dourados que pareciam absorver a luz do fim da tarde. Tinha os olhos de quem não sorri fácil. E o rosto de quem aprendeu cedo que confiança é mais perigosa que espada.

— Príncipe Kael. — disse ele, como se o título importasse mais que o nome.

— Elisa. — respondi sem pensar, porque ele me olhava como se já soubesse.

Mirena apareceu à porta com uma calma que não pertencia a este mundo.

— Entre, filho do vento e do sangue. Trouxe consigo mais que dúvidas.

Kael não hesitou. Passou por mim como uma sombra que sabia para onde ia.

Sentou-se sem pedir. Seus olhos percorreram o ambiente, mas não como um visitante. Como quem avalia um campo de batalha.

— Alguns dizem que nas matas há sabedoria antiga. Que as mulheres daqui sabem mais do que deviam. Vim comprovar isso.

Mirena soltou uma risada seca.

— O que procura não é sabedoria, príncipe. É solução. E solução custa caro quando se tem pressa e pouco coração.

Ele a encarou, sem piscar.

— Tenho um reino sobre meus ombros. E uma maldição rondando os corredores do meu sangue. Não posso ter herdeiros. Nenhuma das minhas esposas passou da segunda lua.

O silêncio se estendeu por segundos que pareciam pesar.

Eu o olhei. Pela primeira vez, sem o título. E vi.

Frieza não era ausência de dor. Era contenção.

Mirena assentiu levemente e então me olhou. Seus olhos disseram o que a boca não precisou:

 “Este é o começo. E você já faz parte.”

Claro! Aqui está a continuação da cena, com Elisa narrando, e começando a perguntar com mais profundidade, sentindo o peso do que foi dito — enquanto Mirena observa em silêncio, como se já esperasse por tudo aquilo.

Sentei-me novamente, ainda com as palavras dele martelando entre as costelas.

 “Não posso ter herdeiros.”

A frase parecia simples, mas algo no tom — no modo como ele segurava o olhar e o copo de chá sem tocá-lo — deixava claro que havia mais por trás. Mais dor. Mais história. Mais sombras.

— Quando começou? — perguntei, sem saber de onde veio a coragem.

Kael desviou os olhos para mim por um segundo. Um segundo longo.

— Há pouco mais de dois invernos. — disse, como se cada palavra fosse um cálculo. — A primeira esposa morreu dormindo. A segunda... gritou por dias antes que o sangue a levasse. Ambas saudáveis. Ambas jovens. Ambas...

Ele não completou. Não precisava.

Mirena continuava calada, apenas mexendo o chá com um galhinho seco de alecrim. Como se mexesse as energias do próprio tempo.

— Ninguém encontrou a origem? — insisti, minha voz saindo baixa, mas firme.

Ele pousou o copo, ainda intocado.

— Os curandeiros do palácio dizem que é uma maldição lançada no sangue real. Outros dizem que é punição dos deuses. Mas... há algo pior que rumores. Há medo.

— Medo? — repeti.

— De que o próximo amor também morra.

Suas palavras caíram como gelo no chão de pedra.

Mirena ergueu finalmente os olhos para ele.

— Então por que busca uma nova esposa?

— Porque não posso esperar mais. O reino exige sucessão. Os conselheiros já sussurram sobre alianças. E... um baile foi marcado. Em dez dias.

Meu coração bateu mais forte.

Ele continuou:

— Quero que vocês duas venham. A sábia e a aprendiz. Para observar. Ouvir. E me ajudar a ver além da beleza. A encontrar… a certa.

— E se a certa for aquela que deve morrer? — sussurrei sem querer.

O silêncio se espalhou como fumaça.

Kael me olhou de novo. Mas, dessa vez, não como príncipe. Nem como homem. Ele me olhou como alguém que carrega um fardo e está cansado de segui-lo sozinho.

— Então... que seja a última vez. Mas não deixarei o trono nas mãos dos que esperam minha queda.

Mirena sorriu de lado, enfim.

— E o destino, Kael? Você vai ignorá-lo?

Ele não respondeu. Apenas olhou para a lareira, onde as chamas dançavam como se soubessem de tudo.

E eu entendi.

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